Amaryllidaceae

Worsleya procera (Lem.) Traub

EN

EOO:

60,219 Km2

AOO:

40,00 Km2

Endêmica do Brasil:

Sim

Detalhes:

Endêmica do estado do Rio de Janeiro (BFG, 2015). Coletada na Serra dos Órgãos, no município de Petrópolis, no Morro do Cuca (G. Martinelli 11153), no Morro do Milho (W.S. Borges et al. 6), Pedra da Maria Comprida (M. Moraes 111), Morro do Oratório (G. Martinelli 16049) e Boi Coroado (M. Moraes 164). Existem também registros para as localidades de: Pedra Azul (M. Moraes 145), Alto das Perobas (M. Moraes 146), João Grande (M. Moraes 112), Irmã Menor (M. Moraes 146), Pedra do Retiro (P02055595). Conhecida principalmente pelas formações presentes no Morro do Cuca, a espécie cresce em altitudes superiores a 1.200 m, vivendo principalmente nas vertentes voltadas para o norte e, mais raramente, nas voltadas para o sul, onde existe uma maior frequência de modificações ecológicas, relacionadas às queimadas de inverno, que também atingem as partes mais elevadas do lado sul (Martinelli, 1984).

Avaliação de risco:

Ano de avaliação: 2017
Avaliador: Lucas Moraes
Revisor: Raquel Negrão
Critério: A2cde;B1ab(i,ii,iii,iv,v)+2ab(i,ii,iii,iv,v)
Categoria: EN
Justificativa:

A espécie herbácea rupícola é endêmica do estado do Rio de Janeiro (BFG, 2015), ocorrendo na região central da Serra dos Órgãos, nos Campos de Altitude associados ao domínio fitogeográfico Mata Atlântica. É encontrada acima dos 1.000m de altitude, em ilhas de vegetação sobre afloramentos rochosos exposta ao sol. Com EOO=52 km² e AOO=36 km², está sujeita a cinco situações de ameaça. São conhecidos cerca de 21 remanescentes populacionais, mas apenas quatro estão bem preservados (Ribeiro e Freitas, 2010). Embora seja encontrada em Unidade de Conservação como a APA de Petrópolis, incêndios em sua área de ocorrência são a principal ameaça à espécie. A invasão por espécies exóticas como o capim-gordura (Melinis minutiflora P.Beauv.) é uma ameaça significativa (Moraes, 2009; Martinelli, 1984). Há indícios de pisoteio e evidências de que a espécie é palatável para herbívoros e de que o miolo do caule é consumido por uma espécie de lagarta e por cabritos nas épocas mais secas (Martinelli, 1984). Conhecida por “rabo-de-galo” ou “imperatriz-do-Brasil”, a espécie possui um extenso histórico de coleta indiscriminada para fins comerciais (Moraes, 2009; Martinelli, 1984). Muito cobiçada por sua aparência inusitada e flores vistosas, é cultivada em propriedades do entorno de sua área de distribuição (Moraes, 2009). No exterior, é cultivada e amplamente comercializada. O alto custo associado ao seu cultivo tem influência direta na retirada de espécimes da natureza (Moraes, 2009; Martinelli, 1984). Por esse conjunto de ameaças, suspeita-se de uma redução populacional no passado por causas ainda não cessadas e de um declínio contínuo da EOO, AOO, qualidade do hábitat, número de subpopulações e de indivíduos maduros.

Último avistamento: 2014
Quantidade de locations: 5
Possivelmente extinta? Não
Razão para reavaliação? Other
Justificativa para reavaliação:

Espécie contemplada no recorte das endêmicas do Rio de Janeiro.

Houve mudança de categoria: Sim

Perfil da espécie:

Obra princeps:

Descrita em Herbertia 10: 89. 1944 Conhecida popularmente como "imperatriz do Brasil" ou "rabo-de-galo", a espécie passou por diversas classificações taxonômicas, até ser finalmente estabelecida como gênero monotípico (Moraes, 2009). Merrow et al. (1999) em análises cladísticas para 48 gêneros de Amaryllidaceae, encontrou dificuldades em posicionar W. rayneri no clado americano da família, uma vez que suas características peculiares, como grande quantidade de mucilagem, bulbos aéreos, número de espatas igual a quatro, e ausência de paraperigônio sugeriam uma linhagem evolutiva independente dentro de Amaryllidaceae (Traub; Moldenke, 1949; Martinelli, 1984). Por esses motivos, W. rayneri é considerada um paleoendemismo das formações campestres de altitude do Estado do Rio de Janeiro, sendo considerada uma das mais primitivas Amaryllidaceae americanas, encontrando paralelo somente em espécies do gênero Griffinia (G. hyacinthina), com a qual compartilha maiores afinidades morfológicas (Strydom, 2005; Dutilh, 2005).

Valor econômico:

Potencial valor econômico: Sim
Detalhes: A espécie foi coletada indiscriminadamente para fins comerciais (Martinelli, 1984).

População:

Tamanho: circa • 119940
Número de subpopulações: circa • 21
Detalhes: São conhecidos cerca de 21 remanescentes populacionais de W. procera, num total de 119.940 indivíduos (Moraes, 2009).
Referências:
  1. Moraes, M. d’Avila, 2009. Conservação e Manejo de Worsleya rayneri (Amaryllidaceae) - uma espécie de campos de altitude ameaçada de extinção. Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Escola Nacional de Botânica Tropical. Dissertação de Mestrado. 102p.

Ecologia:

Substrato: rupicolous
Forma de vida: herb
Luminosidade: heliophytic
Biomas: Mata Atlântica
Vegetação: Campo de Altitude
Fitofisionomia: Afloramento Rochoso, Refúgios Ecológicos Alto-montanos, Campos de Altitude
Habitats: 6 Rocky Areas [e.g. inland cliffs, mountain peaks]
Detalhes: Erva, rupícola, de ocorrência em Mata Atlântica, em vegetação sobre afloramentos rochosos (BFG, 2015). Heliófila, as formações da espécie crescem em encostas rochosas, acumulando matéria orgânica advinda dos detritos carreados pelas chuvas das partes mais altas da encosta do Morro do Cuca, podendo também ser encontradas desprovidas deste substrato (Martinelli, 1984). Apresenta endemismo epibiótico, que, é caracterizado por espécies relíquia de uma flora anterior, quase desaparecida da região. Encontra-se associada a espécies igualmente endêmicas restritas e ameaçadas como: Prepusa connata (Gentianaceae), Glaziophyton mirabile (Poaceae), Tillandsia grazielae, Tillandsia reclinata (Bromeliaceae).
Referências:
  1. BFG (The Brazil Flora Group), 2015. Growing knowledge: an overview of Seed Plant diversity in Brazil. Rodriguésia 66(4):1085–1113. doi: 10.1590/2175-7860201566411
  2. Martinelli, G., 1984. Nota sobre Worsleya rayneri (JD Hooker) Traub & Moldenke, espécie ameaçada de extinção. Rodriguésia , v. 36, n.58, p. 65–71.

Reprodução:

Detalhes: Coletada com flores nos meses de janeiro (G.Martinelli 6748), fevereiro (M.Moraes 06), março (G.Martinelli 16049), abril (M.Moraes 111), junho (G.Martinelli RB 478628 flores alvas), julho (G.Martinelli 605) e frutos no mês de abril (M.Moraes 111). A espécie produz sementes mas dificilmente estas germinam no ambiente natural, a maioria dos indivíduos se reproduz de forma assexuada, através de reprodução vegetativa (Martinelli, 1989).
Fenologia: flowering (Jan~Jul), fruiting (Apr~Jun)
Polinizador: O agente polinizador é desconhecido (Martinelli, 1989).
Referências:
  1. Martinelli, G. Campos de Altitude. Rio de Janeiro. Ed. Index. 1989. 160p.

Ameaças (5):

Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
2.1 Species mortality 7.1.1 Increase in fire frequency/intensity locality,habitat,occupancy,occurrence,mature individuals past,present,future regional very high
A espécie encontra-se ameaçada principalmente pelo fogo na região onde ocorre. Os incêndios são comuns e praticamente anuais na região (Amaro com. pess.). Em 2008, um grande incêndio atingiu a região montanhosa do município de Petrópolis, afetando cinco remanescentes populacionais (Moraes, 2009). A maioria dos incêndios na região se inicia devido a implementação de práticas de manejo inadequadas do solo (Moraes, 2009). Proprietários locais utilizam-se do fogo para a limpeza de terrenos para a plantação de culturas, para o estabelecimento de pastagem ou para abertura de terrenos destinados a construção de condomínios. Em 2007, um único incêndio atingiu quatro populações de W. rayneri, o que representa c. de 19% de todos os remanescentes da espécie (Moraes, 2009).
Referências:
  1. Moraes, M. d’Avila, 2009. Conservação e Manejo de Worsleya rayneri (Amaryllidaceae) - uma espécie de campos de altitude ameaçada de extinção. Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Escola Nacional de Botânica Tropical. Dissertação de Mestrado. 102p.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
2.3.2 Competition 8.1 Invasive non-native/alien species/diseases habitat,occupancy,occurrence past,present,future regional high
A espécie também encontra-se ameaçada pela presença de espécies exóticas, como o capim-gordura (Melinis
 minutiflora), na região, cujo nível de infestação atingiu proporções alarmantes (Moraes, 2009). Aproximadamente 70% das populações naturais de W. rayneri estão sujeitas a algum processo de invasão biológica. A invasão por capim-gordura (Melinis minutiufolia) e a samambaia (Pteridium aquilinum) são uma ameaça significativa para esta espécie (Martinelli, 1984; Moraes, 2009). Alguns locais de ocorrência atingiram níveis de infestação alarmantes, com implicações para a sobrevivência deste táxon na natureza.
Referências:
  1. Moraes, M. d’Avila, 2009. Conservação e Manejo de Worsleya rayneri (Amaryllidaceae) - uma espécie de campos de altitude ameaçada de extinção. Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Escola Nacional de Botânica Tropical. Dissertação de Mestrado. 102p.
  2. Martinelli, G., 1984. Nota sobre Worsleya rayneri (JD Hooker) Traub & Moldenke, espécie ameaçada de extinção. Rodriguésia , v. 36, n.58, p. 65–71.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
2.2 Species disturbance 5.2 Gathering terrestrial plants mature individuals past,present,future local very high
A espécie foi coletada indiscriminadamente para fins comerciais (Martinelli, 1984). A espécie é muito utilizada como planta ornamental, uma vez que apresenta aparência inusitada diante das outras Amaryllidaceae e vistosas flores. Aliada a isso, a espécie é endêmica restrita de uma pequena área da região serrana do município de Petrópolis, RJ, sendo considerada rara e portanto, muito apreciada por colecionadores (Moraes com. pess.).
Referências:
  1. Martinelli, G., 1984. Nota sobre Worsleya rayneri (JD Hooker) Traub & Moldenke, espécie ameaçada de extinção. Rodriguésia 65–71.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
2.1 Species mortality 2.3.2 Small-holder grazing, ranching or farming mature individuals past,present,future local high
Não existem evidências conclusivas de que as áreas de ocorrência sejam utilizadas para pastagem extensiva de animais. Entretanto, indícios de pisoteio e evidências de que a espécie é palatável para herbívoros (formigas) foram encontradas (Moraes, 2009). O pesquisador Gustavo Martinelli relata que o miolo do caule de W. rayneri é comido por cabritos nas épocas mais secas, e por uma espécie de lagarta (Martinelli com. pess.). Já Moraes (2009) afirma que a presença de cavalos e cabritos parece ter grande impacto sobre a estrutura das ilhas de vegetação sobre rocha, afetando indiretamente a sobrevivência local da espécie.
Referências:
  1. Moraes, M. d’Avila, 2009. Conservação e Manejo de Worsleya rayneri (Amaryllidaceae) - uma espécie de campos de altitude ameaçada de extinção. Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Escola Nacional de Botânica Tropical. Dissertação de Mestrado. 102p.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.2 Ecosystem degradation 1.1 Housing & urban areas locality,habitat past,present,future regional high
O desenvolvimento urbano da região de ocorrência de W. rayneri e a implementação/ expansão de empreendimentos rurais/ residenciais configuram séria ameaça a perpetuação da espécie na natureza. A destruição da chamada Buffering Zone, que atua como cinturão protetor dos Inselbergs e Campos de Altitude onde W. rayneri ocorre, vulnerabiliza ainda mais esta flora relictual (Martinellil, 2007; Moraes, 2009). Apesar de não existirem estudos que comprovem o efeito positivo desta zonas-tampão, o papel da Floresta Atlântica na manutenção das condições microclimáticas das encostas rochosas está bem documentado na literatura. Essas áreas atuam ainda como barreira física para vetores que possam representar ameaças para as espécies destas comunidades vegetais sobre a rocha (Moraes, 2009).
Referências:
  1. Martinelli, G. Mountain Biodiversity in Brazil. Revista Brasileira de Botânica, v. 30, n. 4, p. 587-597, 2007.
  2. Moraes, M. d’Avila, 2009. Conservação e Manejo de Worsleya rayneri (Amaryllidaceae) - uma espécie de campos de altitude ameaçada de extinção. Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Escola Nacional de Botânica Tropical. Dissertação de Mestrado. 102p.

Ações de conservação (2):

Ação Situação
5.1.2 National level on going
Espécie incluída na Lista Oficial Brasileira de Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção sob a categoria de “Em perigo” (EN) (Moraes, 2009).
Referências:
  1. Moraes, M. d’Avila, 2009. Conservação e Manejo de Worsleya rayneri (Amaryllidaceae) - uma espécie de campos de altitude ameaçada de extinção. Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Escola Nacional de Botânica Tropical. Dissertação de Mestrado. 102p.
Ação Situação
1 Land/water protection on going
A espécie ocorre nos limites da APA Petrópolis (M. Moraes 47), e na REBIO de Araras.

Ações de conservação (1):

Uso Proveniência Recurso
13. Pets/display animals, horticulture natural whole plant
A espécie foi coletada indiscriminadamente para fins comerciais (Martinelli, 1984).
Referências:
  1. Martinelli, G., 1984. Nota sobre Worsleya rayneri (JD Hooker) Traub & Moldenke, espécie ameaçada de extinção. Rodriguésia , v. 36, n.58, p. 65–71.