MELASTOMATACEAE

Huberia carvalhoi Baumgratz

Como citar:

Eduardo Fernandez; Marta Moraes. 2019. Huberia carvalhoi (MELASTOMATACEAE). Lista Vermelha da Flora Brasileira: Centro Nacional de Conservação da Flora/ Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

EN

EOO:

2.456,098 Km2

AOO:

36,00 Km2

Endêmica do Brasil:

Sim

Detalhes:

Espécie endêmica do Brasil (Baumgratz, 2019), com ocorrência no estado da Bahia, municípios Arataca (Jardim 220), Cairu (Jardim 5337), Ituberá (Guedes 24796), Nilo Peçanha (Silva 2578) e Valença (Carvalho 1135).

Avaliação de risco:

Ano de avaliação: 2019
Avaliador: Eduardo Fernandez
Revisor: Marta Moraes
Critério: B1ab(iii)+2ab(iii)
Categoria: EN
Justificativa:

Árvores de até 10 m, endêmica do Brasil (Baumgratz, 2019). Conhecida popularmente como mundururu, foi documentada em Floresta Ombrófila e Restinga arbórea associadas a Mata Atlântica no estado da Bahia, municípios de Arataca, Cairu, Ituberá, Nilo Peçanha e Valença. Apresenta distribuição restrita, EOO=2045 km², AOO=32 km², três situações de ameaça e ocorrência exclusiva a fitofisionomias severamente fragmentadas. As Florestas Úmidas do sul da Bahia possuem um longo histórico de exploração pelo homem. Atualmente, vastas áreas são utilizadas para a criação extensiva de gado (Mori, 1995) e estão fragmentadas como resultado da atividade humana realizadas no passado, tais como o corte madeireiro e implementação da agricultura (Paciencia e Prado, 2005; Rolim e Chiarello, 2004). O sul do Estado da Bahia é conhecido por abrigar as maiores plantações de cacau do Brasil. O sistema de cabruca foi responsável pela perda drástica de vegetação nativa na região. Mesmo ocorrendo dentro dos limites de Unidades de Conservação de proteção integral, infere-se declínio contínuo em EOO, AOO e qualidade e extensão do habitat. Assim, H. carvalhoi foi considerada "Em perigo" (EN) de extinção novamente. Recomenda-se ações de pesquisa (localização de novas subpopulações, censo e tendências populacionais) e conservação (Plano de Ação) urgentes a fim de se garantir sua perpetuação na natureza no futuro, pois uma extinção local pode ampliar seu risco de extinção. É crescente a demanda para que se concretize o estabelecimento de um Plano de Ação Nacional (PAN) previsto para sua região de ocorrência no estado da Bahia.

Último avistamento: 2016
Quantidade de locations: 3
Possivelmente extinta? Não
Severamente fragmentada? Sim
Razão para reavaliação? Other
Justificativa para reavaliação:

A espécie foi avaliada pelo CNCFlora em 2013 (Martinelli e Moraes, 2013) e consta como "Em Perigo" (EN) na Portaria 443 (MMA, 2014) sendo então necessário que tenha seu estado de conservação re-acessado após 5 anos da última avaliação.

Houve mudança de categoria: Sim
Histórico:
Ano da valiação Categoria
2011 EN

Perfil da espécie:

Obra princeps:

Descrita em: Brittonia 52(1): 25–29, f. 1–3. 2000. Conhecida popularmente como mundururu na região nordeste (Baumgratz, 2019).

Valor econômico:

Potencial valor econômico: Desconhecido
Detalhes: Não é conhecido o valor econômico da espécie.

População:

Detalhes: Não existem dados sobre a população.

Ecologia:

Substrato: terrestrial
Forma de vida: tree
Longevidade: perennial
Biomas: Mata Atlântica
Vegetação: Floresta Ombrófila (Floresta Pluvial), Restinga
Fitofisionomia: Floresta Ombrófila Densa, Vegetação de Restinga
Habitats: 1.6 Subtropical/Tropical Moist Lowland Forest, 3.5 Subtropical/Tropical Dry Shrubland
Detalhes: Árvores de até 10 m de altura (Jardim 5337), ocorrendo nos domínios da Mata Atlântica, na Floresta Ombrófila (= Floresta Pluvial) e na Restinga (Baumgratz, 2019). Ocorre em capoeiras de solo arenoso, com piaçaval, e em restingas arbóreas, primárias ou perturbadas, em altitudes de 50 a 80 m, com solo arenoso ou arenoso-argiloso, geralmente na borda ou em clareiras, onde possuem copa de formato oval, e também no interior da mata, com as copas estreitamente triangulares (Baumgratz, 2004). Ocorre em matas de restinga, primárias ou perturbadas (Baumgratz, 1997) ocorre também em floresta ombrófila densa montana, entre 400-1000 m altitude; Ainda continua a ser uma espécie endêmica da Bahia (Baumgratz, comunicação pessoal)
Referências:
  1. Baumgratz, J.F.A. Huberia in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro.Disponível em: <http://reflora.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB19626>. Acesso em: 01 Jun. 2019
  2. Baumgratz, J.F.A., 2004. Sinopse de Huberia DC. (Melastomataceae: Merianieae). Rev. Bras. Botânica. doi:10.1590/s0100-84042004000300014
  3. Baumgratz, J.F.A., 1997. Revisão Taxonômica do Gênero Huberia DC. Cham. (Melastomataceae; Merianieae). Tese de Doutorado. São Paulo, SP: Universidade de São Paulo.

Reprodução:

Detalhes: Huberia carvalhoi é uma espécie hermafrodita, foi coletada com flores em janeiro (Carvalho 1135), fevereiro (Jardim 220), maio, (Guedes 24796), junho (Santos 2660), agosto (Jardim 5337), outubro (Silva 1767) e dezembro (Loizeau 555); foi coletada com frutos em janeiro (Carvalho 1135), fevereiro (Jardim 220), maio (Guedes 24796), junho (Santos 2660) e agosto (Jardim 5337).
Fenologia: flowering (Dec~Fev), flowering (May~Jun), flowering (Aug~Aug), flowering (Oct~Oct), fruiting (Jan~Fev), fruiting (May~Jun), fruiting (Aug~Aug)
Sistema sexual: hermafrodita

Ameaças (6):

Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.1 Ecosystem conversion 2.1 Annual & perennial non-timber crops habitat,mature individuals past,present,future regional very high
A área relativamente grande ocupada por categorias de uso do solo como pastagem, agricultura e solo descoberto, e a pequena área relativa ocupada por floresta em estágio avançado de regeneração revelam o alto grau de fragmentação da Mata Atlântica no Sul-Sudeste da Bahia (Landau, 2003; Saatchi et al., 2001). Grande parte das florestas úmidas do sul da Bahia estão fragmentadas como resultado da atividade humana realizadas no passado, tais como o corte madeireiro e implementação da agricultura (Paciencia e Prado, 2005). Estima-se que a região tenha 30.000 ha de cobertura florestal (Paciencia e Prado, 2005), 40.000 ha em estágio inicial de regeneração e 200.000 ha em área de pasto e outras culturas, especialmente cacau, seringa, piaçava e dendê (Alger e Caldas, 1996). A maioria das propriedades particulares são fazendas de cacau, o principal produto da agricultura (Paciencia e Prado, 2005), sendo a cabruca considerada a principal categorias de uso do solo na região econômica Litoral Sul da Bahia (Landau, 2003). Nas florestas litorâneas atlânticas dos estados da Bahia e Espírito Santo, cerca de 4% da produção mundial de cacau (Theobroma cacao L.) e 75% da produção brasileira é obtida no que é chamado localmente de "sistemas de cabruca". Neste tipo especial de agrossilvicultura o sub-bosque é drasticamente suprimido para dar lugar a cacaueiros e a densidade de árvores que atingem o dossel é significativamente reduzida (Rolim e Chiarello, 2004; Saatchi et al., 2001). De acordo com Rolim e Chiarello (2004) os resultados do seu estudo mostram que a sobrevivência a longo prazo de árvores nativas sob sistemas de cabruca estão sob ameaça se as atuais práticas de manejo continuarem, principalmente devido a severas reduções na diversidade de árvores e desequilíbrios de regeneração. Tais resultados indicam que as florestas de cabrucas não são apenas menos diversificadas e densas do que as florestas secundárias ou primárias da região, mas também que apresentam uma estrutura onde espécies de árvores dos estágios sucessionais tardios estão se tornando cada vez mais raras, enquanto pioneiras e espécies secundárias estão se tornando dominantes (Rolim e Chiarello, 2004). Isso, por sua vez, resulta em uma estrutura florestal drasticamente simplificada, onde espécies secundárias são beneficiadas em detrimento de espécies primárias (Rolim e Chiarello, 2004).
Referências:
  1. Alger, K., Caldas, M., 1996. Cacau na Bahia: Decadência e ameaça a Mata Atlântica. Ciência Hoje, 20, 28-35.
  2. Landau, E.C., 2003. Padrões de ocupação espacial da paisagem na Mata Atlântica do sudeste da Bahia, Brasil, in: Prado, P.I., Landau, E.C., Moura, R.T., Pinto, L.P.S., Fonseca, G.A.B., Alger, K. (Orgs.), Corredor de biodiversidade da Mata Atlântica do sul da Bahia. IESB/CI/CABS/UFMG/UNICAMP, Ilhéus, p. 1–15.
  3. Paciencia, M.L.B., Prado, J., 2005. Effects of forest fragmentation on pteridophyte diversity in a tropical rain forest in Brazil. Plant Ecol. 180, 87–104.
  4. Rolim, S.G., Chiarello, A.G., 2004. Slow death of Atlantic forest trees in cocoa agroforestry in southeastern Brazil. Biodivers. Conserv. 13, 2679–2694.
  5. Saatchi, S., Agosti, D., Alger, K., Delabie, J., Musinsky, J., 2001. Examining fragmentation and loss of primary forest in the Southern Bahian Atlantic Forest of Brazil with radar imagery. Conserv. Biol. 15, 867–875.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.1 Ecosystem conversion 5.3 Logging & wood harvesting habitat,mature individuals past,present,future regional very high
Dados publicados recentemente (Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, 2018) apontam para uma redução maior que 85% da área originalmente coberta com Mata Atlântica e ecossistemas associados no Brasil. De acordo com o relatório, cerca de 12,4% de vegetação original ainda resistem. Embora a taxa de desmatamento tenha diminuído nos últimos anos, ainda está em andamento, e a qualidade e extensão de áreas florestais encontram-se em declínio contínuo há pelo menos 30 anos (Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, 2018). No estado da Bahia foram desmatadas 1.985 ha entre 2017 e 2018 (SOS Mata Atlântica e INPE, 2019).
Referências:
  1. Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, 2018. Atlas dos remanescentes florestais da Mata Atlântica. Período 2016-2017. Relatório Técnico, São Paulo, 63p.
  2. Fundação SOS Mata Atlântica e INPE, 2019. Atlas dos remanescentes florestais da Mata Atlântica. Período 2017- 2018. Relatório Técnico, São Paulo. 35p.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.1 Ecosystem conversion 2 Agriculture & aquaculture habitat past,present,future regional very high
A área do Parque Nacional da Serra das Lontras e os municípios que a circundam vivem sob intensa pressão antrópica, principalmente por desmatamentos, e é uma das mais chuvosas e úmidas da região cacaueira, onde os plantios de cacau em seu sopé foram muito afetados pela vassoura-de-bruxa (uma praga que ataca os cacaueiros) e a maioria encontra-se em estado de abandono há mais de 20 anos. Há ainda notícias do corte ilegal de madeira. Entre o período de 1986 e 2001, houve uma perda de florestas maduras ao mesmo tempo em que houve fragmentação, ou seja, os blocos de florestas ficaram menores e mais isolados, conforme verificou-se com o aumento do número de fragmentos abaixo de 100 hectares. Em um período de 15 anos, houve uma perda de 20.632 hectares de florestas da região, a uma taxa de 0,8% ao ano (SAVE Brasil et al., 2009).
Referências:
  1. SAVE Brasil; IESB; BirdLife International, 2009. Complexo de Serras das Lontras e Una, Bahia: Elementos naturais e aspectos de sua conservação. São Paulo: SAVE Brasil.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.2 Ecosystem degradation 1.3 Tourism & recreation areas habitat past,present,future local high
Cairu é um dos dois únicos municípios brasileiros inteiramente arquipelágicos (o outro sendo Ilhabela - SP). Muito próximo a Salvador, é formado por 26 ilhas dentre as quais destacam-se as localidades Morro de São Paulo e Moreré, muito conhecidas atualmente pelo turismo crescente na região (Gulberg, 2008). A partir dos anos 90, o fluxo turístico na região aumentou significativamente e de forma desordenada(Gulberg, 2008). Com uma infra-estrutura que não poderia suportar a crescente demanda de períodos de alta estação, houveram graves conseqüências para o meio ambiente local (Gulberg, 2008). Atualmente, o aumento do turismo de massa contribuiu para o agravamento de problemas na APA, como por exemplo: o desmatamento, a sobre-pesca, a ocupação desordenada do solo, a especulação imobiliária, a descaracterização da cultura local, a prostituição, assédios sexuais, furtos e roubos, drogas e o acúmulo do lixo (Gulberg, 2008).
Referências:
  1. Gulberg, L.D., 2008. Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental das Ilhas de Tinharé e Boipeba - Estudo de caso. Universidade Federal da Bahia.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.2 Ecosystem degradation 1.1 Housing & urban areas habitat past,present,future local high
Segundo Silva (2002), uma preocupação é a forte erosão genética que populações naturais da espécie vêm sofrendo, principalmente por influências antrópicas causadas por empreendimentos imobiliários nos municípios com potencialidade turístico, a exemplo de Ilhéus, Valença, Itacaré e Porto Seguro.
Referências:
  1. Silva, L. A. M.,Simões, L. L., Lino, C. F., 2002. Piaçava - 500 Anos de Extrativismo. São Paulo, SP: SENAC São Paulo, 2002.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.2 Ecosystem degradation 3.2 Mining & quarrying habitat present,future local high
Para a região do município de Nilo Peçanha há protocolos atuais de Autorização de pesquisa para exploração de Bauxita. Para a região do município de Arataca há protocolos atuais de Autorização de pesquisa para minério de ferro e exploração de Granito (DNPM, 2019).
Referências:
  1. DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL - DNPM. SIGMINE: Informações Geográficas da Mineração. http://sigmine.dnpm.gov.br/webmap/, (acesso em 22 de maio 2019).

Ações de conservação (3):

Ação Situação
5.1.2 National level on going
Espécie avaliada como "Criticamente em perigo" está incluída no ANEXO I da Lista Nacional Oficial de Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção (MMA, 2014).
Referências:
  1. Ministério do Meio Ambiente (MMA). Portaria nº 443/2014. Anexo I. Lista Nacional Oficial de Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção. Disponível em: http://dados.gov.br/dataset/portaria_443. Acesso em 14 de abril 2019.
Ação Situação
1.1 Site/area protection on going
A espécie foi registrada em: PARQUE NACIONAL DA SERRA DAS LONTRAS (PI) e na ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL CAMINHOS ECOLÓGICOS DA BOA ESPERANÇA (US).
Ação Situação
1.1 Site/area protection
A espécie ocorre em um território que será contemplado por Plano de Ação Nacional (PAN) Territorial, no âmbito do projeto GEF pró-espécies: todos contra a extinção : Território Milagres - 39 (BA) e Território Itororó - 35 (BA).

Ações de conservação (1):

Uso Proveniência Recurso
17. Unknown
Não existem dados sobre usos efetivos ou potenciais.