Malvaceae

Gossypium mustelinum Miers

Como citar:

Marta Moraes; Eduardo Fernandez. 2019. Gossypium mustelinum (Malvaceae). Lista Vermelha da Flora Brasileira: Centro Nacional de Conservação da Flora/ Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

EN

EOO:

304.647,751 Km2

AOO:

160,00 Km2

Endêmica do Brasil:

Sim

Detalhes:

Gossypium mustelinum é uma espécie endêmica da região nordeste brasileira, onde ocorre em distintas fitofisionomias dos domínios da Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica. A espécie possui material testemunho (voucher) depositado em herbários, cujos registros foram realizados nos estados: BAHIA, municípios Caraíba (Miranda 1106), Ibiquera (França 4965), Itaberaba (Harley 55204), Itaeté (Harley 53946), Macururé (Miranda 1100), Muritiba (Pinto 42279), Riachão do Jacuípe (Noblick 4120); CEARÁ, município Crato (Gardner 1463); PERNAMBUCO, município Goiana (Silva 1), Recife (Pickersgill 437B); RIO GRANDE DO NORTE, município Caicó (Miranda 1075). Além desses, a Embrapa Algodão mantém um banco de dados com ocorrências de acessos registrados em distintas localidades no estado da BAHIA, municípios Bandiaçu, Boa Nova, Candeal, Canudos, Conceição do Coité, Curaçá, Euclides da Cunha, Iaçu, Ichu, Iramaia, Itaberaba, Jaguarari, Jequié, Macajuba, Macururé, Manoel Vitorino, Maracás, Milagres, Monte Santo, Riachão do Jacuípe, Rui Barbosa, São Domingos e em Tanquinho (Albrana, 2018; Alves et al., 2013; Menezes et al., 2014a). Outros estudos também têm reportado a ocorrência da espécie para os estados de PERNAMBUCO, municípios de Goiana e Itamaracá (da Silva et al., 2018), PARAÍBA, municípios de Pitimbu e João Pessoa (base de dados Embrapa).

Avaliação de risco:

Ano de avaliação: 2019
Avaliador: Marta Moraes
Revisor: Eduardo Fernandez
Critério: A2ace;B2ab(ii,iii,iv,v);C2a(i)
Categoria: EN
Justificativa:

Arbusto perene com até 6 m de altura, Gossypium mustelinum Miers é uma espécie endêmica da região nordeste brasileira (Pickersgill, 1975). Conhecido popularmente por algodão-bravo é encontrado nos estados da Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte, em distintas fitofisionomias dos domínios fitogeográficos da Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica (Flora do Brasil 2020 em construção, 2019 e base de dados Embrapa). A espécie cresce nas imediações de rios, riachos, lagos ou poços de águas, ou seja, próxima a fontes de água (Alves et al., 2013; Barroso et al., 2010; Menezes et al., 2014a; Neves et al., 1965; Pickersgill et al., 1975) ou sobre solos arenosos com distintos níveis de drenagem (da Silva et al., 2018). A primeira subpopulação conhecida dessa espécie data de 1838, coletada por Gardner no município de Crato (CE), e não se verificam registros atuais para o estado. Em 1965 a espécie foi novamente encontrada no município de Caiacó (RN), contendo menos de 20 indivíduos (Neves et al., 1965), e até 2005, apenas seis pequenas subpopulações haviam sido descritas para esta região (Barroso et al., 2010). Devido a esforços recentes, foram encontradas novas subpopulações no estado da Bahia (Alves et al., 2013, Menezes et al., 2014a). Recentemente, três novas subpopulações de Gossypium mustelinum foram descritas na planície costeira do estado de Pernambuco (da Silva et al., 2018). Ainda, em 2018, foram registrados 107 indivíduos de algodão bravo na Paraíba. Estima-se que há a redução do tamanho da população seja de 50% devido ao declínio na área de ocupação, extensão de ocorrência e qualidade de hábitat. Dentre as causas da redução da população de Gossypium mustelinum estão a conversão da vegetação nativa em pastagem e a degradação e morte de indivíduos provocados pelo pisoteio de bovinos e caprinos (Alves et al., 2013; Barroso et al., 2010, 2005; Borém et al., 2003; Menezes et al., 2014a; Pickersgill et al., 1975; Wendel et al., 1994). A maioria dos municípios de ocorrência do Gossypium mustelinum no estado da Bahia tem mais da metade de sua área (de 70% a 90%) convertida em pastagem (Lapig, 2019). O desmatamento e o fogo figuram entre as causas da perda de habitat de Gossypium mustelinum, especialmente a destruição da vegetação ripária por ser o principal local de ocorrência da espécie, como ocorreu com a construção da barragem no rio Paraguaçu, BA (da Silva et al., 2018; Menezes et al., 2014a; Alves et al., 2013; Barroso et al., 2010; Borém et al., 2003; Wendel et al., 1994). A expansão urbana associada à queima da vegetação coloca as três subpopulações encontradas na costa de Pernambuco sob sério risco de extinção (da Silva et al., 2018). Não é conhecida a dinâmica populacional da espécie, porém, estudos apontam que a produção em escala comercial de espécies cultivadas e transgênicas de algodão apresentam sérias implicações sobre Gossypium mustelinum (Barroso et al., 2005; Menezes et al., 2014b, 2015). Segundo Menezes et al. (2014b), a introdução de patógenos a partir dos cultivos comerciais de algodão podem ser uma ameaça fitossanitária para as subpopulações de Gossypium mustelinum, uma vez que a espécie foi suscetível a todas as doenças estudadas. Contudo, chama a atenção a compatibilidade sexual e ausência de barreiras reprodutivas entre as espécies de algodão, possibilitando a ocorrência de fluxo gênico e hibridização interespecífica devido à ocorrência simpátrica dos algodões exóticos ou aqueles cultivares transgênicos com as espécies nativas (Alves et al., 2013; Barroso et al., 2010, 2005; Freire et al., 1990; Menezes et al., 2014a, 2015; Pereira et al., 2012; Sousa, 2010; Wendel et al., 1994). Diante dessa iminente ameaça foram estabelecidas as zonas de exclusão (isolamento geográfico) para reduzir a probabilidade de introgressões (Barroso et al., 2005; Borém et al., 2003). Diante da redução populacional de 50% observada por pesquisadores, o declínio da área de ocupação e extensão de ocorrência, infere-se o risco de extinção à espécie devido aos efeitos de hibridização com espécies de algodão comercial. Gossypium mustelinum apresenta AOO=172 km² e cinco situações de ameaça. Infere-se o declínio contínuo da área de ocupação e extensão e qualidade do hábitat. Estima-se um declínio contínuo de indivíduos maduros nas subpopulações e que estas contenham menos que 250 indivíduos maduros. Devido às ameaças incidentes Gossypium mustelinum foi avaliado como “Em perigo” (EN) de extinção. Indicam-se e incentivam-se ações de conservação voltadas para a manutenção da espécie na natureza, tais como: a conservação in situ (com a manutenção e ampliação das zonas de exclusão para todas as subpopulações); ex situ (a espécie já é mantida em coleções "in vivo” e em coleções de germoplasma na Embrapa (Freire, 2000) e no Departamento de Agronomia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (da Silva et al., 2018); e a realização de estudos populacionais que descrevam a estrutura demográfica de Gossypium mustelinum.

Último avistamento: 2018
Quantidade de locations: 5
Possivelmente extinta? Não

Perfil da espécie:

Obra princeps:

Espécie descrita em: Cotton Plants of the World 167 (1907); Popularmente conhecida por algodão bravo (Pickersgill et al., 1975).

Valor econômico:

Potencial valor econômico: Não
Detalhes: Embora ainda não tenha sido reportado o cultivo e nenhum uso econômico ou qualquer uso doméstico por pessoas que vivem em localidades próximas às populações do algodão bravo (Alves et al., 2013; Barroso et al., 2010; Borém et al., 2003; da Silva et al., 2018; Pickersgill et al., 1975), a espécie possui grande potencial como fonte de variabilidade para o uso em programas de melhoramento genético de algodão (Alves et al., 2013; Barroso et al., 2010; Menezes et al., 2014a; Vidal-Neto e Freire, 2013).

População:

Detalhes: O “algodão bravo”, como é conhecido Gossypium mustelinum, é um arbusto perene que pode atingir 6 m de altura (Barroso et al., 2010; Pickersgill et al., 1975). Historicamente, a primeira população conhecida dessa espécie foi descoberta por Gardner em 1838 no, então, município de Crato no estado do Ceará (Barroso et al., 2010). Após este registro, apenas em 1965 a espécie foi novamente encontrada em um sítio chamado Salgadinho (Serra da Formiga), município de Caicó no estado do Rio Grande do Norte, cujas plantas formavam uma colônia com menos de 20 indivíduos, dos quais alguns eram jovens (Neves et al., 1965). Até 2005, apenas seis pequenas populações haviam sido descritas, sendo a população presente no sítio Salgadinho formada por apenas 11 indivíduos adultos (Barroso et al., 2010). Dentre as causas da redução dessa população, Barroso et al. (2010) citam os danos provocados pelo pastejo de bovinos e a secagem da única fonte permanente de abastecimento hídrico (Olho D’água dos Algodões), cujo seu desaparecimento causou a morte de ao menos quatro indivíduos adultos. Ainda, segundo os autores, duas outras pequenas populações descritas para a Serra da Formiga (Freire et al., 1990; Wendel et al., 1994) não foram localizadas e a sua extinção poderia ter sido causada pelo pastejo de bovinos e desmatamento (Barroso et al., 2010). No estado da Bahia, no município de Cabeceiras do Paraguaçu, a população de Gossypium mustelinum encontrada na década de 1970 às margens do rio Paraguaçu, na fazenda Belo Vale, não foi reencontrada na expedição realizada em 2005 e seu desaparecimento foi atribuído a destruição da vegetação às margens do rio, após a construção da barragem no ano de 1985 (Barroso et al., 2010). Já a população do município de Jaguarari, conhecida desde 1982 (Freire, 2000) nas margens do Riacho da Barrinha na localidade de Pilar, teve redução gradual do número de indivíduos verificada em expedições anteriores, até no ano de 2004 nenhum indivíduo ser encontrado (Barroso et al., 2010). Este declínio poderia ser atribuído ao elevado número de caprinos que, durante a estação seca, alimentam-se não apenas das sementes, folhas e ramos de Gossypium mustelinum, mas também de sua casca o que induz a morte da planta (Barroso et al., 2010). Nesse município, em 2005, uma nova população foi encontrada dentro da área de resíduos da mina de cobre pertencente à Mineradora Caraíba, com cerca de 500 indivíduos adultos e um grande número de jovens (Barroso et al., 2010). Tal população apresenta franco crescimento e regeneração, uma consequência das medidas de proteção contra a ação predatória de herbívoros (caprinos) e do homem adotada pela Mineradora (Barroso et al., 2010). As duas últimas populações, ambas no município baiano de Macururé, apresentam situações muito distintas. A primeira delas situada na Fazenda Barbosa, localidade de Salgado do Melão, foi descoberta em 1972 crescendo às margens de três pequenos e intermitentes poços de água (Pickersgill et al., 1975). Naquela ocasião, Pickersgill et al. (1975) descrevem que a colônia no entorno da Lagoa Patori era formada por ao menos 18 indivíduos adultos e alguns jovens, a qual encontrava-se de certo modo protegida do pastejo de bovinos por uma espécie de bromélia espinescente (Bromelia laciniosa Mart. ex Schult. & Schult.f.); na Lagoa dos Algodões foram encontrados apenas três indivíduos pequenos, pois a colônia havia diminuído muito após a queimada efetuada para erradicar tal bromélia para facilitar e aumentar a área de pastejo dos bovinos; e a última lagoa apresentava um único indivíduo. A segunda população situada na Fazenda São Francisco, na localidade de São Francisco, crescia em condições ecológicas muito distinta da anterior (distante de qualquer fonte de água e em ambiente extremamente seco e aberto) e mais associada à bromélia, contudo, esta pequena colônia era formada por cerca de 10 indivíduos depauperados (Pickersgill et al., 1975). Segundo Borém et al. (2003) este pequeno número de indivíduos encontrados pode ser uma indicação de que a espécie está em risco eminente de extinção. Em 2005, Barroso et al. (2010) visitaram as duas populações de Macururé e encontraram na Fazenda Barbosa cinco colônias nas margens dos poços de águas chamados de Lagoas de Paturis, das Mulheres, dos Cavalos, dos Algodões e a planície de inundação chamada Varjão. Os autores relatam que as condições da vegetação eram similares ao descrito por Pickersgill et al. (1975), porém o fato do proprietário da fazenda cercar a área para proteger a população do pastejo efetuado por caprinos resultou no aumento do número de indivíduos de Gossypium mustelinum, sendo encontrados 43 adultos também associados à espécie de bromélia (Barroso et al., 2010). Ao contrário, a população de São Francisco foi encontrada em situação ainda pior que aquela de seu descobrimento, com apenas dois indivíduos adultos e alguns poucos jovens danificados pela pastagem de animais (Barroso et al., 2010). Desde então, outras expedições têm sido realizadas para monitorar as populações de Gossypium mustelinum e novas áreas de ocorrência foram encontradas, no ano de 2006, nas margens dos rios Capivara e Tocó (Alves et al., 2013) e, de 2009, na bacia do rio de Contas, Bahia (Menezes et al., 2014a). Ao longo do rio Capivara, nos seis locais amostrados no município de Itaberaba, Alves et al. (2013) encontraram cerca de 1.200 indivíduos da espécie e atribuíram isso ao melhor estado de conservação da vegetação nativa devido a menor interferência humana. Por outro lado, ao longo do rio Tocó (seis locais distribuídos nos municípios de Riachão do Jacuípe, Ichu e Conceição do Coité) foram encontrados mais de 350 indivíduos do algodão bravo, cujas plantas estavam bastante afetadas principalmente pela atividade pecuária extensiva e de desmatamento da floresta ripária (Alves et al., 2013). Ainda, segundo Alves et al. (2013), estes locais quando protegidos por cercas ou por espécies espinescentes (como já descrito em outras populações, Barroso et al., 2010; Pickersgill et al., 1975) apresentavam maior número de indivíduos (Alves et al., 2013). Na bacia do rio de Contas, Menezes et al. (2014a) encontraram 10 subpopulações distribuídas em quatro populações nos municípios de Iramaia, Jequié, Boa Nova e Manoel Vitorino. Com exceção da subpopulação da fazenda Graciosa, em Manoel Vitorino, onde um grande número (1000 indivíduos) de plantas jovens foi observado, nas demais subpopulações o número de Gossypium mustelinum foi geralmente pequeno (Menezes et al., 2014a). Na subpopulação Jacaré, em Iramaia, foram observados 50 indivíduos de algodão bravo, 30 em Quixaba, 150 em Serra Azul e 30 indivíduos no Riacho Riachão em Jequié, e outros 81 indivíduos no Riacho Riachão já no município de Boa Nova (Menezes et al., 2014a). Além disso, a Embrapa Algodão mantém um banco de dados com 95 ocorrências de acessos registrados no estado da Bahia (Albrana, 2018). Essas ocorrências foram registradas em distintas localidades, sendo que em Bandiaçu há um total de 20 indivíduos adultos de algodão bravo, em Boa Nova (3/0 adultos e jovens, respectivamente), em Candeal (6/0), em Euclides da Cunha (1/0), em Iaçu (12/0), em Ichu (40/0), em Iramaia (50/0), em Itaberaba (1172/0), em Jaguarari (13/0), em Jequié (476/216), em Macururé (904/564), em Manoel Vitorino (20/10), em Milagres (107/52), em Monte Santo (16/0), em Riachão do Jacuípe (419/0), em Rui Barbosa (15/7) e dois indivíduos adultos em São Domingos (Albrana, 2018). Recentemente, três novas populações de Gossypium mustelinum foram descritas na planície costeira do estado do Pernambuco, sendo os locais conhecidos como Ponta de Pedras e Barra de Catuama, no município de Goiana, e Praia do Sossego em Itamaracá (da Silva et al., 2018). Tais populações, entretanto, estão sob sério risco de extinção a curto prazo, devido às frequentes queimadas realizadas para limpar os lotes onde as plantas ocorrem, além da acelerada expansão imobiliária (da Silva et al., 2018). Ainda, em 2018, os pesquisadores da Embrapa registraram 107 indivíduos de algodão bravo nos municípios de Pitimbu e João Pessoa, na Paraíba. Contudo, não há ainda estudos populacionais que descrevam a estrutura demográfica de Gossypium mustelinum em qualquer das suas populações conhecidas. Consequentemente, a dinâmica populacional da espécie ante os processos envolvidos no seu estabelecimento e em resposta às perturbações naturais e antrópicas não é conhecida. Até o momento, apenas foi verificado que a ausência de perturbações provocadas pela ação de herbívoros ou humana favorece (regeneração) a ocorrência de indivíduos jovens do algodão bravo (Alves et al., 2013; Barroso et al., 2010; Menezes et al., 2014a). No que se refere à biologia reprodutiva, Gossypium mustelinum é uma espécie com flores hermafroditas, cuja reprodução sexual pode se dar por autofecundação (autogamia ou geitogamia) ou fecundação cruzada na presença de polinizadores (Alves et al., 2013; Borém et al., 2003; Menezes et al., 2014a; Wendel et al., 1994). Os principais polinizadores responsáveis por realizar a polinização cruzada das espécies de algodão são abelhas, especialmente Bombus spp. e Apis spp. (Borém et al., 2003). Além disso, a espécie também reproduz assexuadamente com a formação de clones a partir de partes do caule (estacas), inclusive algumas são mantidas in vivo no banco de germoplasma da Embrapa ou na Universidade Rural Federal de Pernambuco (Barroso et al., 2010; da Silva et al., 2018; Menezes et al., 2014a). Ainda em relação a reprodução sexuada, Gossypium mustelinum e todas as espécies de algodão que ocorrem no Brasil são alotetraplóide e sexualmente compatíveis (Alves et al., 2013; da Silva et al., 2018; Menezes et al., 2014a, 2014b, 2015). Assim, a possibilidade de ocorrer fluxo gênico via pólen (além da dispersão de sementes ou caroços) entre o algodão bravo e as outras espécies (incluindo os cultivares) com ocorrência simpátrica é uma preocupação (Menezes et al., 2015; Pereira et al., 2012; Sousa, 2010), mesmo que a competição de pólen seja parcialmente uma barreira reprodutiva (Pereira et al., 2012; Sousa, 2010). Se por um lado, a maioria das populações de Gossypium mustelinum ocorrem isoladas dos campos de cultivo de algodão, por outro, algumas plantas derivadas de grãos usados para alimentar o gado ou dispersas durante o transporte podem ser encontradas próximas dessas populações silvestres (Pereira et al., 2012). Menezes et al. (2014a) ressaltam que a simpatria entre o algodão bravo e outras espécies alotetraplóide de Gossypium devem ser evitadas caso a conservação in situ seja desejada. Além desses processos ligados ao sistema de reprodução de Gossypium mustelinum, os estudos genéticos têm mostrado que suas populações apresentam altos níveis de endogamia (Alves et al., 2013; Barroso et al., 2010; Menezes et al., 2014a; Wendel et al., 1994), baixa diversidade genética (Barroso et al., 2010; Wendel et al., 1994), alta quantidade de alelos exclusivos (Alves et al., 2013; Barroso et al., 2010), efeito de gargalo (Alves et al., 2013; Barroso et al., 2010; Menezes et al., 2014a) e baixo ou inexistente fluxo gênico (Alves et al., 2013; Menezes et al., 2014a) devido isolamento geográfico e o baixo número de indivíduos (Alves et al., 2013; Barroso et al., 2010; Menezes et al., 2014a; Wendel et al., 1994). Ainda, um fator reprodutivo e genético importante a ser considerado é a hibridização interespecífica, cuja introgressão havia sido inicialmente tratada como um evento raro e que teria ocorrido de forma unidirecional, de Gossypium mustelinum para um algodão cultivado (Freire et al., 1990; Wendel et al., 1994). Posteriormente, a ausência ou baixa ocorrência de cruzamento interespecíficos também foi reportada (Alves et al., 2013; Barroso et al., 2010). Segundo Pereira et al. (2012), embora o fluxo gênico possa ser um problema nos locais com ocorrência simpátrica das espécies, híbridos naturais não ocorrem ou sua frequência é muito baixa na natureza. Já Menezes et al. (2014a) encontraram evidências fenotípicas de introgressão a partir de Gossypium barbadense L. nas plantas de algodão bravo coletadas no rio Jacaré. Contudo, os resultados do estudo de Menezes et al. (2015) mostraram que há introgressão nas populações de Gossypium mustelinum em condições naturais a partir de espécie exótica cultivada. O estabelecimento e expansão do algodão exótico pode levar a um aumento na taxa de hibridização (Pereira et al., 2012) porque a taxa de cruzamento interespecífico, possivelmente, é correlacionada com a frequência da espécie exótica e, portanto, a coexistência entre eles deve ser evitada (Menezes et al., 2015). Além da fragilidade genética, há um risco fitossanitário decorrente da introdução de espécies cultivadas próxima das populações de algodão bravo, uma vez que elas foram susceptíveis a todas as doenças estudadas (Menezes et al., 2014b). Neste contexto, foram estabelecidas as zonas de exclusão para evitar o cruzamento interespecífico entre os algodões exóticos ou aqueles cultivares transgênicos com as espécies nativas (Barroso et al., 2005; Borém et al., 2003). O estabelecimento dessas zonas de exclusão (isolamento geográfico) figura como a medida mais eficaz para evitar que a estrutura genética das populações nativas seja afetada e para reduzir a probabilidade de introgressões, uma vez que as espécies são sexualmente compatíveis e não há barreiras sexuais completas (Barroso et al., 2005). Entretanto, as zonas de exclusão de algodoeiros transgênicos que visam proteger as populações de Gossypium mustelinum abrangem apenas municípios dos estados do Rio Grande do Norte e Bahia (Barroso et al., 2005; Borém et al., 2003). Considerando as informações recentes sobre a distribuição de Gossypium mustelinum faz-se necessário a ampliação das zonas de exclusão de cultivares transgênicos, a fim de abranger também as novas populações da espécie (da Silva et al., 2018).
Referências:
  1. Barroso, P.A.V., Hoffmann, L.V., de Freitas, R.B., de Araújo Batista, C.E., Alves, M.F., Silva, U.C., de Andrade, F.P., Batista, C.E. de A., Alves, M.F., Silva, U.C., de Andrade, F.P., 2010. In situ conservation and genetic diversity of three populations of Gossypium mustelinum Miers ex Watt. Genet. Resour. Crop Evol. 57, 343–349.
  2. Pickersgill, B., Barrett, S.C.H., Andrade-Lima, D. de, 1975. Wild Cotton in Northeast Brazil. Biotropica 7, 42–54.
  3. Neves, O. da S., Cavaleri, P.Â., Gridi-Papp, I.L., Fusatto, M.G., 1965. Algodoeiro selvagem no nordeste do Brasil. Bragantia 24, 19–25.
  4. Freire, E.C., Moreira, J.A.N., Miranda, A.R., Percival, A.E., Stewart, J., 1990. Identificação de novos sitios de ocorrencia de Gossypium mustelinum no Brasil., EMBRAPA-CNPA. Pesquisa em Andamento, 10. Campina Grande. 7 p.
  5. Wendel, J.F., Rowley, R., Stewart, J.M., 1994. Genetic diversity in and phylogenetic relationships of the Brazilian endemic cotton, Gossypium mustelinum (Malvaceae). Plant Syst. Evol. 192, 49–59.
  6. Freire, E.C., 2000. Distribuição, coleta, uso e preservação das espécies silvestres de algodão no Brasil, Documentos, 78. Campina Grande. 24 p.
  7. Borém, A., Freire, E.C., Penna, J.C.V., Barroso, P.A.V., 2003. Considerations about cotton gene escape in Brazil: a review. Crop Breed. Appl. Biotechnol. 3, 315–332.
  8. Alves, M.F., Barroso, P.A.V., Ciampi, A.Y., Hoffmann, L.V., Azevedo, V.C.R., Cavalcante, U., 2013. Diversity and genetic structure among subpopulations of Gossypium mustelinum (Malvaceae). Genet. Mol. Res. 12, 597–609.
  9. Menezes, I.P.P. de, Gaiotto, F.A., Hoffmann, L.V., Ciampi, A.Y., Barroso, P.A.V., 2014a. Genetic diversity and structure of natural populations of Gossypium mustelinum, a wild relative of cotton, in the basin of the De Contas River in Bahia, Brazil. Genetica 142, 99–108.
  10. Albrana, 2018. Algodões brasileiros nativos e naturalizados. http://www.cnpa.embrapa.br/albrana. Acessado em 13 Ago 2018.
  11. da Silva, E.F., Duarte-Filho, L.S.C., Maia, A.K. dos S., Silva, A.V. da, Lins e Silva, A.C.B., 2018. The occurrence of wild cotton Gossypium mustelinum Miers ex Watt populations in the coast of Pernambuco, Northeastern Brazil. Genet. Resour. Crop Evol. 65, 1551–1557.
  12. Menezes, I.P.P. de, Gaiotto, F.A., Suassuna, N.D., Hoffmann, L.V., Barroso, P.A.V., 2014b. Susceptibility of Gossypium mustelinum populations to the main cotton diseases in Brazil. J. Agric. Sci. 6, 1–9.
  13. Menezes, I.P.P., da Silva, J.O., Malafaia, G., Silveira, R.D.D., Barroso, P.A.V., 2015. Natural hybridization between Gossypium mustelinum and exotic allotetraploid cotton species. Genet. Mol. Res. 14, 14177–14180.
  14. Pereira, G.S., Sousa, R.L., Araújo, R.L., Hoffmann, L.V., Silva, E.F., Barroso, P.A.V., 2012. Selective fertilization in interspecific crosses of allotetraploid species of Gossypium. Botany 90, 159–166.
  15. Sousa, R.L., 2010. Avaliação de competição entre pólen nas espécies de algodoeiros Gossypium hirtum L. e G. mustelinum (Miers) Watt. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal Rural de Pernambuco. 68 p.
  16. Barroso, P.A.V., Freire, E.C., Amaral, J.A.B. do, Silva, M.T., 2005. Zonas de exclusão de algodoeiro transgênico para preservação de espécies de Gossypium nativas ou naturalizadas. Comun. Técnico 242 1–6.

Ecologia:

Substrato: terrestrial
Forma de vida: bush
Fenologia: perenifolia
Longevidade: perennial
Biomas: Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga
Vegetação: Floresta Ombrófila (Floresta Pluvial), Cerrado (lato sensu), Caatinga (stricto sensu)
Habitats: 1.6 Subtropical/Tropical Moist Lowland Forest, 2 Savanna
Clone: yes
Rebrotar: yes
Detalhes: Gossypium mustelinum é um arbusto perene (Barroso et al., 2010; Pickersgill et al., 1975) que apresenta crescimento rápido e abundante em áreas abertas, de modo que tem sido indicada como uma espécie pioneira (Alves et al., 2013; Menezes et al., 2014a). A espécie cresce, em geral, nas imediações de rios, riachos, lagos ou poços de águas, ou seja, próxima a fontes de água (Alves et al., 2013; Barroso et al., 2010; Menezes et al., 2014a; Neves et al., 1965; Pickersgill et al., 1975) ou sobre solos arenosos com distintos níveis de drenagem na restinga (da Silva et al., 2018).
Referências:
  1. Barroso, P.A.V., Hoffmann, L.V., de Freitas, R.B., Batista, C.E. de A., Alves, M.F., Silva, U.C., de Andrade, F.P., 2010. In situ conservation and genetic diversity of three populations of Gossypium mustelinum Miers ex Watt. Genet. Resour. Crop Evol. 57, 343–349.
  2. Alves, M.F., Barroso, P.A.V., Ciampi, A.Y., Hoffmann, L.V., Azevedo, V.C.R., Cavalcante, U., 2013. Diversity and genetic structure among subpopulations of Gossypium mustelinum (Malvaceae). Genet. Mol. Res. 12, 597–609.
  3. Menezes, I.P.P. de, Gaiotto, F.A., Hoffmann, L.V., Ciampi, A.Y., Barroso, P.A.V., 2014a. Genetic diversity and structure of natural populations of Gossypium mustelinum, a wild relative of cotton, in the basin of the De Contas River in Bahia, Brazil. Genetica 142, 99–108.
  4. Neves, O. da S., Cavaleri, P.Â., Gridi-Papp, I.L., Fusatto, M.G., 1965. Algodoeiro selvagem no nordeste do Brasil. Bragantia 24, 19–25.
  5. Pickersgill, B., Barrett, S.C.H.S., Andrade-Lima, D. de, Lima, A., 1975c. Wild Cotton in Northeast Brazil. Biotropica 7, 42–54.
  6. da Silva, E.F., Duarte-Filho, L.S.C., Maia, A.K. dos S., Silva, A.V. da, Lins e Silva, A.C.B., 2018. The occurrence of wild cotton Gossypium mustelinum Miers ex Watt populations in the coast of Pernambuco, Northeastern Brazil. Genet. Resour. Crop Evol. 65, 1551–1557.

Reprodução:

Detalhes: No que se refere à biologia reprodutiva, Gossypium mustelinum é uma espécie com flores hermafroditas, cuja reprodução sexual pode se dar por autofecundação (autogamia ou geitogamia) ou fecundação cruzada na presença de polinizadores (Alves et al., 2013; Borém et al., 2003; Menezes et al., 2014a; Wendel et al., 1994). Os principais polinizadores responsáveis por realizar a polinização cruzada das espécies de algodão são abelhas, especialmente Bombus spp. e Apis spp. (Borém et al., 2003). Além disso, a espécie também reproduz assexuadamente com a formação de clones a partir de partes do caule (estacas), inclusive algumas são mantidas in vivo no banco de germoplasma da Embrapa ou na Universidade Rural Federal de Pernambuco (Barroso et al., 2010; da Silva et al., 2018; Menezes et al., 2014a). Ainda em relação a reprodução sexuada, Gossypium mustelinum e todas as espécies de algodão que ocorrem no Brasil são alotetraplóide e sexualmente compatíveis (Alves et al., 2013; da Silva et al., 2018; Menezes et al., 2014a, 2014b, 2015). O período de floração dessa espécie ocorre predominantemente nos meses mais húmidos, entre maio e junho, no entanto algumas plantas apresentam flor na maior parte do ano (da Silva et al., 2018).
Fenologia: flowering (May~Jun)
Síndrome de polinização: melitophily
Polinizador: Os principais polinizadores responsáveis por realizar a polinização cruzada das espécies de algodão são abelhas, especialmente Bombus spp. e Apis spp. (Borém et al., 2003).
Estratégia: iteropara
Sistema sexual: hermafrodita
Sistema: self-compatible
Referências:
  1. Alves, M.F., Barroso, P.A.V., Ciampi, A.Y., Hoffmann, L.V., Azevedo, V.C.R., Cavalcante, U., 2013. Diversity and genetic structure among subpopulations of Gossypium mustelinum (Malvaceae). Genet. Mol. Res. 12, 597–609.
  2. Borém, A., Freire, E.C., Penna, J.C.V., Barroso, P.A.V., 2003. Considerations about cotton gene escape in Brazil: a review. Crop Breed. Appl. Biotechnol. 3, 315–332.
  3. Menezes, I.P.P. de, Gaiotto, F.A., Hoffmann, L.V., Ciampi, A.Y., Barroso, P.A.V., 2014a. Genetic diversity and structure of natural populations of Gossypium mustelinum, a wild relative of cotton, in the basin of the De Contas River in Bahia, Brazil. Genetica 142, 99–108.
  4. Wendel, J.F., Rowley, R., Stewart, J.M., 1994. Genetic diversity in and phylogenetic relationships of the Brazilian endemic cotton, Gossypium mustelinum (Malvaceae). Plant Syst. Evol. 192, 49–59.
  5. Barroso, P.A.V., Hoffmann, L.V., de Freitas, R.B., de Araújo Batista, C.E., Alves, M.F., Silva, U.C., de Andrade, F.P., Batista, C.E. de A., Alves, M.F., Silva, U.C., de Andrade, F.P., 2010. In situ conservation and genetic diversity of three populations of Gossypium mustelinum Miers ex Watt. Genet. Resour. Crop Evol. 57, 343–349.
  6. da Silva, E.F., Duarte-Filho, L.S.C., Maia, A.K. dos S., Silva, A.V. da, Lins e Silva, A.C.B., 2018. The occurrence of wild cotton Gossypium mustelinum Miers ex Watt populations in the coast of Pernambuco, Northeastern Brazil. Genet. Resour. Crop Evol. 65, 1551–1557.
  7. Menezes, I.P.P. de, Gaiotto, F.A., Suassuna, N.D., Hoffmann, L.V., Barroso, P.A.V., 2014b. Susceptibility of Gossypium mustelinum populations to the main cotton diseases in Brazil. J. Agric. Sci. 6, 1–9.
  8. Menezes, I.P.P., da Silva, J.O., Malafaia, G., Silveira, R.D.D., Barroso, P.A.V., 2015. Natural hybridization between Gossypium mustelinum and exotic allotetraploid cotton species. Genet. Mol. Res. 14, 14177–14180.

Ameaças (8):

Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.1 Ecosystem conversion 1.1 Housing & urban areas mature individuals,locality,occurrence,occupancy present,future local very high
A acelerada ocupação urbana de pequenos lotes coloca as três populações encontradas recentemente na costa de Pernambuco sob sério risco de extinção (da Silva et al., 2018).
Referências:
  1. da Silva, E.F., Duarte-Filho, L.S.C., Maia, A.K. dos S., Silva, A.V. da, Lins e Silva, A.C.B., 2018. The occurrence of wild cotton Gossypium mustelinum Miers ex Watt populations in the coast of Pernambuco, Northeastern Brazil. Genet. Resour. Crop Evol. 65, 1551–1557.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.1 Ecosystem conversion 2.1 Annual & perennial non-timber crops mature individuals past,present,future regional high
A agricultura, apesar de praticada em alguns casos para a subsistência da população local, também é responsável por provocar a perda de habitat e de indivíduos de algodão bravo (Borém et al., 2003; Wendel et al., 1994). Já a produção em escala comercial de espécies cultivadas e transgênicas de algodão tem sérias implicações sobre Gossypium mustelinum (Barroso et al., 2005; Menezes et al., 2014b, 2015).
Referências:
  1. Borém, A., Freire, E.C., Penna, J.C.V., Barroso, P.A.V., 2003. Considerations about cotton gene escape in Brazil: a review. Crop Breed. Appl. Biotechnol. 3, 315–332.
  2. Wendel, J.F., Rowley, R., Stewart, J.M., 1994. Genetic diversity in and phylogenetic relationships of the Brazilian endemic cotton, Gossypium mustelinum (Malvaceae). Plant Syst. Evol. 192, 49–59.
  3. Barroso, P.A.V., Freire, E.C., Amaral, J.A.B. do, Silva, M.T., 2005. Zonas de exclusão de algodoeiro transgênico para preservação de espécies de Gossypium nativas ou naturalizadas. Comun. Técnico 242 1–6.
  4. Menezes, I.P.P. de, Gaiotto, F.A., Suassuna, N.D., Hoffmann, L.V., Barroso, P.A.V., 2014b. Susceptibility of Gossypium mustelinum populations to the main cotton diseases in Brazil. J. Agric. Sci. 6, 1–9.
  5. Menezes, I.P.P., da Silva, J.O., Malafaia, G., Silveira, R.D.D., Barroso, P.A.V., 2015. Natural hybridization between Gossypium mustelinum and exotic allotetraploid cotton species. Genet. Mol. Res. 14, 14177–14180.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.1 Ecosystem conversion 2.3 Livestock farming & ranching locality,habitat,mature individuals past,present,future regional high
Dentre as causas da redução das populações de Gossypium mustelinum, a ação do pastejo ou pisoteio provocada por herbívoros (bovinos e caprinos) tem sido citada como um dos principais vetores de pressão com efeitos demográficos negativos (Alves et al., 2013; Barroso et al., 2010, 2005; Borém et al., 2003; Menezes et al., 2014a; Pickersgill et al., 1975; Wendel et al., 1994). Barroso et al. (2010) atribuem o desaparecimento da população de algodão bravo nas margens do Riacho da Barrinha, em Jaguarari, ao elevado número de caprinos que durante a estação seca alimentam-se não apenas das sementes, folhas e ramos, mas também de sua casca, consequentemente, induzindo a planta à morte. Na bacia do rio De Contas, Menezes et al. (2014a) ressaltam que a redução do número de indivíduos, bem como os danos físicos às plantas e a redução da produção de sementes, são consequências da ação de bovinos e caprinos. A maioria dos municípios de ocorrência do G. mustelinum no estado da Bahia tem mais da metade de sua área convertida em pastagem: Candeal 82%,Conceição do Coité 71%, Iaçu 55%, Ibiquera 73%, Ichu 91%, Iramaia 51%, Itaberaba 68%, Itaeté 62%, Macajuba 82%, Monte Santo 52%, Riachão do Jacuípe 91%, Rui Barbosa 71%, São Domingos 79%, Tanquinho 70% (Lapig, 2019).
Referências:
  1. Alves, M.F., Barroso, P.A.V., Ciampi, A.Y., Hoffmann, L.V., Azevedo, V.C.R., Cavalcante, U., 2013. Diversity and genetic structure among subpopulations of Gossypium mustelinum (Malvaceae). Genet. Mol. Res. 12, 597–609.
  2. Barroso, P.A.V., Freire, E.C., Amaral, J.A.B. do, Silva, M.T., 2005. Zonas de exclusão de algodoeiro transgênico para preservação de espécies de Gossypium nativas ou naturalizadas. Comun. Técnico 242 1–6.
  3. Barroso, P.A.V., Hoffmann, L.V., de Freitas, R.B., de Araújo Batista, C.E., Alves, M.F., Silva, U.C., de Andrade, F.P., Batista, C.E. de A., Alves, M.F., Silva, U.C., de Andrade, F.P., 2010. In situ conservation and genetic diversity of three populations of Gossypium mustelinum Miers ex Watt. Genet. Resour. Crop Evol. 57, 343–349.
  4. Borém, A., Freire, E.C., Penna, J.C.V., Barroso, P.A.V., 2003. Considerations about cotton gene escape in Brazil: a review. Crop Breed. Appl. Biotechnol. 3, 315–332.
  5. Menezes, I.P.P. de, Gaiotto, F.A., Hoffmann, L.V., Ciampi, A.Y., Barroso, P.A.V., 2014a. Genetic diversity and structure of natural populations of Gossypium mustelinum, a wild relative of cotton, in the basin of the De Contas River in Bahia, Brazil. Genetica 142, 99–108.
  6. Pickersgill, B., Barrett, S.C.H., Andrade-Lima, D. de, 1975. Wild Cotton in Northeast Brazil. Biotropica 7, 42–54.
  7. Wendel, J.F., Rowley, R., Stewart, J.M., 1994. Genetic diversity in and phylogenetic relationships of the Brazilian endemic cotton, Gossypium mustelinum (Malvaceae). Plant Syst. Evol. 192, 49–59.
  8. Lapig, 2019. http://maps.lapig.iesa.ufg.br/lapig.html (acesso em 07 de janeiro 2019).
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.1 Ecosystem conversion 5.3 Logging & wood harvesting mature individuals,locality past,present,future regional high
O desmatamento com distintas finalidades figura entre as causas da perda de habitat de Gossypium mustelinum, especialmente da vegetação ripária por ser o local de ocorrência da espécie (Alves et al., 2013; Barroso et al., 2010; Borém et al., 2003; da Silva et al., 2018; Menezes et al., 2014a; Wendel et al., 1994). De acordo com Barroso et al. (2010), a construção da barragem no rio Paraguaçu foi responsável pela destruição de toda a vegetação ripária, incluindo as plantas de algodão bravo. Já Menezes et al. (2014a) relatam que todos os indivíduos da espécie observados na bacia do rio De Contas estavam nas áreas ripárias, sendo que a degradação provocada pelo desmatamento da vegetação foi a causa da redução do número de indivíduos. Além disso, a acelerada ocupação urbana de pequenos lotes coloca as três populações encontradas recentemente na costa de Pernambuco sob sério risco de extinção (da Silva et al., 2018).
Referências:
  1. Alves, M.F., Barroso, P.A.V., Ciampi, A.Y., Hoffmann, L.V., Azevedo, V.C.R., Cavalcante, U., 2013. Diversity and genetic structure among subpopulations of Gossypium mustelinum (Malvaceae). Genet. Mol. Res. 12, 597–609.
  2. Barroso, P.A.V., Hoffmann, L.V., de Freitas, R.B., de Araújo Batista, C.E., Alves, M.F., Silva, U.C., de Andrade, F.P., Batista, C.E. de A., Alves, M.F., Silva, U.C., de Andrade, F.P., 2010. In situ conservation and genetic diversity of three populations of Gossypium mustelinum Miers ex Watt. Genet. Resour. Crop Evol. 57, 343–349.
  3. Borém, A., Freire, E.C., Penna, J.C.V., Barroso, P.A.V., 2003. Considerations about cotton gene escape in Brazil: a review. Crop Breed. Appl. Biotechnol. 3, 315–332.
  4. da Silva, E.F., Duarte-Filho, L.S.C., Maia, A.K. dos S., Silva, A.V. da, Lins e Silva, A.C.B., 2018. The occurrence of wild cotton Gossypium mustelinum Miers ex Watt populations in the coast of Pernambuco, Northeastern Brazil. Genet. Resour. Crop Evol. 65, 1551–1557.
  5. Menezes, I.P.P. de, Gaiotto, F.A., Hoffmann, L.V., Ciampi, A.Y., Barroso, P.A.V., 2014a. Genetic diversity and structure of natural populations of Gossypium mustelinum, a wild relative of cotton, in the basin of the De Contas River in Bahia, Brazil. Genetica 142, 99–108.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
2.1 Species mortality 7.1 Fire & fire suppression mature individuals past,present,future regional medium
Associada muitas vezes à atividade pecuária está a realização de queimadas para “limpar” a área ou promover a renovação da pastagem para o pastejo dos animais. O uso de fogo para erradicar a bromélia espinescente (Bromelia laciniosa) com o objetivo de facilitar e aumentar a área de pastejo dos animais seria a causa da redução do número de indivíduos de algodão bravo em Salgado do Melão (Pickersgill et al., 1975). Os indivíduos de algodão se beneficiam da proteção proporcionada pela bromélia contra o pastejo (Barroso et al., 2010; Pickersgill et al., 1975), porém a presença de espécies espinescentes é indesejada pelos proprietários e a realização de queimadas é uma forma encontrada para erradicá-las (Pickersgill et al., 1975). Além disso, os incêndios florestais são apontados como as causas da degradação da vegetação ripária e da redução de indivíduos de Gossypium mustelinum na bacia do rio De Contas (Menezes et al., 2014a). Por outro lado, o fogo também é frequentemente utilizado em áreas urbanas para limpeza dos lotes antes da construção de novas residências e, de acordo com da Silva et al. (2018), esta prática coloca as três populações da costa de Pernambuco sob sérios riscos de extinção.
Referências:
  1. Barroso, P.A.V., Hoffmann, L.V., de Freitas, R.B., de Araújo Batista, C.E., Alves, M.F., Silva, U.C., de Andrade, F.P., Batista, C.E. de A., Alves, M.F., Silva, U.C., de Andrade, F.P., 2010. In situ conservation and genetic diversity of three populations of Gossypium mustelinum Miers ex Watt. Genet. Resour. Crop Evol. 57, 343–349.
  2. da Silva, E.F., Duarte-Filho, L.S.C., Maia, A.K. dos S., Silva, A.V. da, Lins e Silva, A.C.B., 2018. The occurrence of wild cotton Gossypium mustelinum Miers ex Watt populations in the coast of Pernambuco, Northeastern Brazil. Genet. Resour. Crop Evol. 65, 1551–1557.
  3. Menezes, I.P.P. de, Gaiotto, F.A., Hoffmann, L.V., Ciampi, A.Y., Barroso, P.A.V., 2014a. Genetic diversity and structure of natural populations of Gossypium mustelinum, a wild relative of cotton, in the basin of the De Contas River in Bahia, Brazil. Genetica 142, 99–108.
  4. Pickersgill, B., Barrett, S.C.H., Andrade-Lima, D. de, 1975. Wild Cotton in Northeast Brazil. Biotropica 7, 42–54.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.1 Ecosystem conversion 7.2 Dams & water management/use mature individuals past,present,future local very high
De acordo com Barroso et al. (2010), a construção da barragem no rio Paraguaçu no ano de 1985 foi responsável pela destruição de toda a vegetação ripária, incluindo as plantas de algodão bravo naquele local.
Referências:
  1. Barroso, P.A.V., Hoffmann, L.V., de Freitas, R.B., de Araújo Batista, C.E., Alves, M.F., Silva, U.C., de Andrade, F.P., Batista, C.E. de A., Alves, M.F., Silva, U.C., de Andrade, F.P., 2010. In situ conservation and genetic diversity of three populations of Gossypium mustelinum Miers ex Watt. Genet. Resour. Crop Evol. 57, 343–349.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
2.3.1 Hybridization 8 Invasive & other problematic species, genes & diseases mature individuals past,present,future regional high
A produção em escala comercial de espécies cultivadas e transgênicas de algodão tem sérias implicações sobre Gossypium mustelinum (Barroso et al., 2005; Menezes et al., 2014b, 2015). Segundo Menezes et al. (2014b), a introdução de patógenos a partir dos cultivos comerciais de algodão podem ser uma ameaça fitossanitária para as populações de Gossypium mustelinum, uma vez que a espécie foi susceptível a todas as doenças estudadas. Contudo, chama a atenção a compatibilidade sexual e ausência de barreiras reprodutivas entre as espécies de algodão, possibilitando a ocorrência de fluxo gênico e hibridização interespecífica devido a ocorrência simpátrica dos algodões exóticos ou aqueles cultivares transgênicos com as espécies nativas (Alves et al., 2013; Barroso et al., 2010, 2005; Freire et al., 1990; Menezes et al., 2014a, 2015; Pereira et al., 2012; Sousa, 2010; Wendel et al., 1994). Os resultados do estudo de Menezes et al. (2015) mostraram que há introgressão nas populações de Gossypium mustelinum em condições naturais a partir de espécie exótica cultivada. Assim, o estabelecimento e expansão do algodão exótico pode levar a um aumento na taxa de hibridização (Pereira et al., 2012) porque a taxa de cruzamento interespecífico, possivelmente, é correlacionada com a frequência da espécie exótica e, portanto, a coexistência entre eles deve ser evitada (Menezes et al., 2015). Diante dessa eminente ameaça foram estabelecidas as zonas de exclusão (isolamento geográfico) para evitar que a estrutura genética das populações nativas seja afetada e para reduzir a probabilidade de introgressões (Barroso et al., 2005; Borém et al., 2003). Contudo, essas zonas de exclusão precisar ser ampliadas para abranger todas as populações de Gossypium mustelinum (da Silva et al., 2018).
Referências:
  1. Alves, M.F., Barroso, P.A.V., Ciampi, A.Y., Hoffmann, L.V., Azevedo, V.C.R., Cavalcante, U., 2013. Diversity and genetic structure among subpopulations of Gossypium mustelinum (Malvaceae). Genet. Mol. Res. 12, 597–609.
  2. Barroso, P.A.V., Freire, E.C., Amaral, J.A.B. do, Silva, M.T., 2005. Zonas de exclusão de algodoeiro transgênico para preservação de espécies de Gossypium nativas ou naturalizadas. Comun. Técnico 242 1–6.
  3. Barroso, P.A.V., Hoffmann, L.V., de Freitas, R.B., de Araújo Batista, C.E., Alves, M.F., Silva, U.C., de Andrade, F.P., Batista, C.E. de A., Alves, M.F., Silva, U.C., de Andrade, F.P., 2010. In situ conservation and genetic diversity of three populations of Gossypium mustelinum Miers ex Watt. Genet. Resour. Crop Evol. 57, 343–349.
  4. Borém, A., Freire, E.C., Penna, J.C.V., Barroso, P.A.V., 2003. Considerations about cotton gene escape in Brazil: a review. Crop Breed. Appl. Biotechnol. 3, 315–332.
  5. da Silva, E.F., Duarte-Filho, L.S.C., Maia, A.K. dos S., Silva, A.V. da, Lins e Silva, A.C.B., 2018. The occurrence of wild cotton Gossypium mustelinum Miers ex Watt populations in the coast of Pernambuco, Northeastern Brazil. Genet. Resour. Crop Evol. 65, 1551–1557.
  6. Freire, E.C., Moreira, J.A.N., Miranda, A.R., Percival, A.E., Stewart, J., 1990. Identificacao de novos sitios de ocorrencia de Gossypium mustelinum no Brasil., EMBRAPA-CNPA. Pesquisa em Andamento, 10. Campina Grande. 7 p.
  7. Menezes, I.P.P. de, Gaiotto, F.A., Hoffmann, L.V., Ciampi, A.Y., Barroso, P.A.V., 2014a. Genetic diversity and structure of natural populations of Gossypium mustelinum, a wild relative of cotton, in the basin of the De Contas River in Bahia, Brazil. Genetica 142, 99–108.
  8. Menezes, I.P.P. de, Gaiotto, F.A., Suassuna, N.D., Hoffmann, L.V., Barroso, P.A.V., 2014b. Susceptibility of Gossypium mustelinum populations to the main cotton diseases in Brazil. J. Agric. Sci. 6, 1–9.
  9. Menezes, I.P.P., da Silva, J.O., Malafaia, G., Silveira, R.D.D., Barroso, P.A.V., 2015. Natural hybridization between Gossypium mustelinum and exotic allotetraploid cotton species. Genet. Mol. Res. 14, 14177–14180.
  10. Pereira, G.S., Sousa, R.L., Araújo, R.L., Hoffmann, L.V., Silva, E.F., Barroso, P.A.V., 2012. Selective fertilization in interspecific crosses of allotetraploid species of Gossypium. Botany 90, 159–166.
  11. Wendel, J.F., Rowley, R., Stewart, J.M., 1994. Genetic diversity in and phylogenetic relationships of the Brazilian endemic cotton, Gossypium mustelinum (Malvaceae). Plant Syst. Evol. 192, 49–59.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
2.1 Species mortality 11.2 Droughts mature individuals past,present,future regional high
Em relação às alterações ambientais com efeitos negativos sob as populações de Gossypium mustelinum, a seca ou o completo desaparecimento das fontes de água é um fator responsável por causar a morte de indivíduos (Barroso et al., 2010), uma vez que a espécie tem estreita associação com cursos d’água, lagos ou poças.
Referências:
  1. Barroso, P.A.V., Hoffmann, L.V., de Freitas, R.B., de Araújo Batista, C.E., Alves, M.F., Silva, U.C., de Andrade, F.P., Batista, C.E. de A., Alves, M.F., Silva, U.C., de Andrade, F.P., 2010. In situ conservation and genetic diversity of three populations of Gossypium mustelinum Miers ex Watt. Genet. Resour. Crop Evol. 57, 343–349.

Ações de conservação (2):

Ação Situação
3.4 Ex-situ conservation on going
A espécie é mantida em coleções "in vivo" em áreas da Embrapa, em Patos e Campina Grande, PB (Freire, 2000) e em coleções de germoplasma na Embraba (Freire, 2000) e no Departamento de Agronomia da Universidade Federal Rural de Pernambuco (da Silva et al., 2018). Algumas plantas representativas foram clonadas por estacas e mantidas em campo e em estufa na Embrapa Algodão (Barroso et al., 2010).
Referências:
  1. da Silva, E.F., Duarte-Filho, L.S.C., Maia, A.K. dos S., Silva, A.V. da, Lins e Silva, A.C.B., 2018. The occurrence of wild cotton Gossypium mustelinum Miers ex Watt populations in the coast of Pernambuco, Northeastern Brazil. Genet. Resour. Crop Evol. 65, 1551–1557.
  2. Freire, E.C., 2000. Distribuição, coleta, uso e preservação das espécies silvestres de algodão no Brasil, Documentos, 78. Campina Grande. 24 p.
  3. Barroso, P.A.V., Hoffmann, L.V., de Freitas, R.B., Batista, C.E. de A., Alves, M.F., Silva, U.C., de Andrade, F.P., 2010. In situ conservation and genetic diversity of three populations of Gossypium mustelinum Miers ex Watt. Genet. Resour. Crop Evol. 57, 343–349.
Ação Situação
5.1 Legislation needed
Em relação a conservação in situ, a única medida adotada até o momento é o estabelecimento das zonas de exclusão de cultivares transgênicos (Barroso et al., 2005; Borém et al., 2003), entretanto, faz-se necessário a sua ampliação para abranger as demais populações de Gossypium mustelinum (da Silva et al., 2018).
Referências:
  1. Barroso, P.A.V., Freire, E.C., Amaral, J.A.B. do, Silva, M.T., 2005. Zonas de exclusão de algodoeiro transgênico para preservação de espécies de Gossypium nativas ou naturalizadas. Comun. Técnico 242 1–6.
  2. Borém, A., Freire, E.C., Penna, J.C.V., Barroso, P.A.V., 2003. Considerations about cotton gene escape in Brazil: a review. Crop Breed. Appl. Biotechnol. 3, 315–332.
  3. da Silva, E.F., Duarte-Filho, L.S.C., Maia, A.K. dos S., Silva, A.V. da, Lins e Silva, A.C.B., 2018. The occurrence of wild cotton Gossypium mustelinum Miers ex Watt populations in the coast of Pernambuco, Northeastern Brazil. Genet. Resour. Crop Evol. 65, 1551–1557.

Ações de conservação (1):

Uso Proveniência Recurso
17. Unknown
Não há relato de qualquer tipo de uso doméstico por pessoas que vivem em localidades próximas às populações dessa planta (Alves et al., 2013; Barroso et al., 2010).
Referências:
  1. Alves, M.F., Barroso, P.A.V., Ciampi, A.Y., Hoffmann, L.V., Azevedo, V.C.R., Cavalcante, U., 2013. Diversity and genetic structure among subpopulations of Gossypium mustelinum (Malvaceae). Genet. Mol. Res. 12, 597–609.
  2. Barroso, P.A.V., Hoffmann, L.V., de Freitas, R.B., Batista, C.E. de A., Alves, M.F., Silva, U.C., de Andrade, F.P., 2010. In situ conservation and genetic diversity of three populations of Gossypium mustelinum Miers ex Watt. Genet. Resour. Crop Evol. 57, 343–349.