Eduardo Fernandez; Marta Moraes. 2019. Dimorphandra wilsonii (FABACEAE). Lista Vermelha da Flora Brasileira: Centro Nacional de Conservação da Flora/ Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Espécie endêmica do Brasil (Souza e Gibau, 2019), com ocorrência na Região Central do estado de MINAS GERAIS, nos municípios de Caetanópolis ( Fernandes 194), Esmeraldas (Fernandes 208), Florestal (Fernandes 294), Fortuna de Minas (Fernandes 210), Inhaúma (Fernandes 213), Jaboticatubas (Fernandes 222), Juatuba (Fernandes 418), Lagoa Santa (Fernandes ponto 24), Maravilhas (Fernandes 432), Mateus Leme (Fernandes 434), Matozinhos (Fernandes ponto 524), Nova Serrana (Fernandes ponto 517), Pará de Minas (Fernandes com. pess. 2019), Paraopeba (Ordones 1672), Pequi (Fernandes 275), Perdigão (Fernandes 410), São José da Varginha (Fernandes 423), Sete Lagoas (Fernandes 223). Em altitude de 677 a 976 m (Fernandes & Rego 2014).
Árvore de até 20 m, endêmica do Brasil (Souza e Gibau, 2019). Popularmente conhecida como faveiro-de-wilson, foi documentada em Floresta Estacional Semidecidual associada aos ecótonos florestais situados entre a Mata Atlântica e o Cerrado no estado de Minas Gerais. Apresenta distribuição restrita, EOO=5794 km², AOO=104 km², cinco situações de ameaça, subpopulações pequenas e em declínio e ocorrência em fitofisionomia florestal severamente fragmentada. As subpopulações da espécie distribuem-se por 23 municípios da região Central de Minas Gerais, principalmente nas bacias dos Rios Paraopeba, das Velhas e Pará, afluentes do Rio São Francisco (Fernandes e Rego, 2014; Fernandes, Com. Pess.). É uma espécie secundária tardia e longeva, podendo atingir mais de 120 anos (Fernandes e Rego, 2014) e produzindo frutos, e geral, somente a partir de 15 anos (Martins et al., 2014). Atualmente, cerca de 420 indivíduos maduros de D. wilsonii são conhecidos, descobertos após inúmeras expedições focais para localizar subpopulações na natureza (Fernandes, com. pess.). Estes esforços praticamente dobraram o número de árvores potencialmente reprodutivas conhecido anteriormente (cerca de 200 indivíduos na avaliação de risco passada). As principais ameaças a D. wilsonii na natureza são constituídas por expansão urbana, particularmente na região metropolitana de Belo Horizonte, atividades agropecuárias intensivas, espécies invasoras de alto poder competitivo, como a presença constante do capim Urochloa decumbens, que inibe a importante simbiose identificada entre D. wilsonii e uma bactéria fixadora de nitrogênio e limita o crescimento de plantas jovens; o fogo, frequente em sua área de ocorrência dominada por pastagens, e as práticas desenvolvidas pelos extratores do minhocuçu Rhinodrilus alatus, cuja técnica de revolvimento do solo causa grande impacto na vegetação devido à retirada de indivíduos jovens e danos às raízes (Martins et al., 2014). Há indícios de depressão endogâmica, demandando medidas de conservação da espécie antes que sua diversidade genética se reduza a níveis irreversíveis (Souza, 2008; Souza e Lovato, 2010). Apesar da área de ocupação da espécie encontrar-se intensamente antropizada (Fernandes et al., 2007), evidenciado pela presença de pastagens ocupando entre 50% e 70% da área original de vegetação nativa nos municípios de ocorrência, a criação do Programa de Conservação do faveiro-de-wilson (PCFW) em 2004 e a elaboração do Plano de Ação Nacional para Conservação do faveiro-de-wilson (Martins et al., 2014), ampliaram consistentemente o estado de conhecimento e conservação desta árvore. Mesmo com a totalidade das árvores conhecidas estarem fora de Unidades de Conservação de proteção integral (Fernandes e Rego, 2014), programas amplos de mobilização popular para identificar indivíduos nas fazendas da região e propor práticas para garantir a perpetuação das subpopulações foram conduzidos em paralelo ao levantamento de dados primários no campo e ao estabelecimento de um programa de produção de mudas, re-introdução e monitoramento da espécie (Fernandes, com. pess., 2019), o que, em conjunto, parece ter melhorado de forma genuína o estado de conservação de D. wilsonii. Diante do exposto, portanto, D. wilsonii foi considerada "Em perigo" (EN) de extinção neste momento. Infere-se declínio contínuo em EOO, AOO, na qualidade e extensão do habitat, e potencialmente, no número de situações de ameaça e no número de indivíduos maduros. Adicionalmente, são conhecidos menos que 2500 indivíduos da espécie, e suspeita-se que a redução populacional sofrida acompanhe a proporção de expansão das áreas de pastagem nas suas áreas de ocorrência, variando entre 50-70% nas últimas três gerações da espécie (45 anos). Recomenda-se ações de pesquisa (ampliação dos esforços de busca, tendências populacionais) e conservação (educação ambiental, ampliação e consolidação da rede de colaboradores e proprietários que resguardam subpopulações da espécie) a fim de garantir perpetuação da espécie na natureza e evitar sua inclusão em categoria de ameaça mais restrita no futuro caso os programas de proteção em andamento não continuem e se amplifiquem.
A espécie foi avaliada como "Criticamente em Perigo" (CR) na lista vermelha da IUCN (Moreira Fernandes, 2006). Posteriormente, avaliada pelo CNCFlora/JBRJ em 2013 (Martinelli e Moraes, 2013) e consta como "Criticamente em Perigo" (CR) na Portaria 443 (MMA, 2014) sendo então necessário que tenha seu estado de conservação re-acessado após 5 anos da última avaliação.
Ano da valiação | Categoria |
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2012 | CR |
Espécie descrita em: An. Acad. Bras. Cienc. xli. 239 (1969). Nome popular: "faveiro-de-Wilson".
Estresse | Ameaça | Declínio | Tempo | Incidência | Severidade |
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1.1 Ecosystem conversion | 1.1 Housing & urban areas | locality,habitat | past,present,future | local | very high |
Área de ocupação muito antropizada, tanto ruralizada quanto urbanizada (Fernandes et al., 2007). | |||||
Referências:
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Estresse | Ameaça | Declínio | Tempo | Incidência | Severidade |
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1.1 Ecosystem conversion | 2.3 Livestock farming & ranching | locality,habitat,mature individuals | past,present,future | regional | very high |
Dos 18 municípios onde a espécie foi coletada, 9 apresentam entre 50% e 70% do território convertidos em pastagem, 8 municípios com 30% a 50% e 1 município com 22%: O município de Caetanópolis com 15604 ha possui 55% de seu território (8544 ha) convertidos em pastagem (Lapig, 2019). O município de Esmeraldas com 90948 ha possui 46% de seu território (41834 ha) convertidos em pastagem (Lapig, 2019). O município de Florestal com 19142 ha possui 46% de seu território (8893 ha) convertidos em pastagem (Lapig, 2019). O município de Fortuna de Minas com 19871 ha possui 59% de seu território (11771 ha) convertidos em pastagem (Lapig, 2019). O município de Inhauma com 24449 ha possui 63% de seu território (15458 ha) convertidos em pastagem (Lapig, 2019). O município de Jaboticatubas apresenta em seu território (111497 ha), 24% (26288 ha) ocupados por pastagem (Lapig, 2018). O município de Juatuba com 9954 ha possui 22% de seu território (2174 ha) convertidos em pastagem (Lapig, 2019). O município de Lagoa Santa com 22927 ha tem 38,3% de seu território (8790 ha) transformados em pastagem (Lapig, 2018). O município de Maravilhas com 26160 ha possui 61% de seu território (15837 ha) convertidos em pastagem (Lapig, 2019). O município de Mateus Leme com 30271 ha possui 30% de seu território (9113 ha) convertidos em pastagem (Lapig, 2019). O município de Matozinhos com 25228 ha possui 48% de seu território (12143 ha) convertidos em pastagem (Lapig, 2019). O município de Nova Serrana com 28273 ha possui 59% de seu território (16706 ha) convertidos em pastagem (Lapig, 2019). O município de Pará de Minas com 55125 ha possui 48% de seu território (26223 ha) convertidos em pastagem (Lapig, 2019). O município de Paraopeba com 62562 ha possui 3963% de seu território convertidos em pastagem (31354 ha), Floresta plantada (6263 ha), lavoura de milho e soja (1717 ha)(Lapig, 2019). O município de Pequi com 20399 ha possui 59% de seu território (12108 ha) convertidos em pastagem (Lapig, 2019). O município de Perdigão com 24932 ha possui 70% de seu território (17371 ha) convertidos em pastagem (Lapig, 2019). O município de São José da Varginha com 20550 ha possui 61% de seu território (12477 ha) convertidos em pastagem (Lapig, 2019). O município de Sete Lagoas com 53764 ha possui 44% de seu território (23469 ha) convertidos em pastagem (Lapig, 2019). | |||||
Referências:
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Estresse | Ameaça | Declínio | Tempo | Incidência | Severidade |
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1.2 Ecosystem degradation | 7.1 Fire & fire suppression | habitat | past,present | regional | high |
Fogo parcialmente controlável em 3 municípios que possuem brigada, uma delas criada pelo Programa de Conservação do faveiro-de-wilson (Martins et al 2014). | |||||
Referências:
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Estresse | Ameaça | Declínio | Tempo | Incidência | Severidade |
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1.2 Ecosystem degradation | 5 Biological resource use | locality,occupancy,habitat | past,present | local | medium |
Extração de minhocuçu (Rhinodrilus alatus). Severa mas localizada, em apenas 2 municípios (Martins et al. 2014). Reversível: talvez, em parte. O Programa de Conservação do faveiro-de-wilson vem realizando atividades de mobilização e conscientização dos “minhoqueiros”(Fernandes com. pess. 2019). | |||||
Referências:
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Ação | Situação |
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3 Species management | on going |
Início do inventário da espécie em 2003 e criação do Programa de Conservação do faveiro-de-wilson (PCFW) em 2004, pelo Jardim Botânico da Fundação de Parques Municipais e Zoobotanica de Belo Horizonte (FPMZB), desenvolvido em parceria com entidades como UFMG, UFV, IEF, ICMBio, IPJBRJ e ONGs regionais. Decreto estadual 43.904 de 2004, torna a espécie imune de corte em Minas Gerais (Fernandes & Rego 2014). Elaboração do Plano de Ação Nacional para Conservação do faveiro-de-wilson (PAN faveiro), numa iniciativa do Jardim Botânico da FPMZB, em conjunto com CNCFlora, ICMBio, IEF/MG, UFMG e outras entidades (Martins et al 2014). | |
Referências:
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Ação | Situação |
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5 Law & policy | on going |
"Vulnerável" (VU) segundo a Lista vermelha da flora de Minas Gerais (COPAM-MG, 1997). "Criticamente em perigo" (CR) (Biodiversitas, 2005). Presente na Lista vermelha da flora do Brasil (MMA, 2008), anexo 1. Criticamente em Perigo" (CR) segundo Fernandes, 2006. Dimorphandra wilsonii. Lista vermelha IUCN (2011). A espécie foi avaliada como "Criticamente em perigo" (CR) no Livro Vermelho CNCFlora 2013 e está incluída no ANEXO I da Lista Nacional Oficial de Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção (MMA, 2014). | |
Referências:
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Ação | Situação |
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3.4 Ex-situ conservation | on going |
Programa de produção de mudas, re-introdução e monitoramento, coordendado pela Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte (Fernandes, com. pess., 2019). |
Ação | Situação |
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4 Education & awareness | on going |
Mobilização popular para identificar indivíduos em sítios e fazendas na região Central de Minas Gerais, coord. Fundação Zoo-Botânica de Belo Horizonte (Fernandes, com. pess. 2019). |
Ação | Situação |
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1 Land/water protection | needed |
A espécie ocorre em território que possivelmente será contemplado por Plano de Ação Nacional (PANs) Territorial, no âmbito do projeto GEF pró-espécies: todos contra a extinção: Território 10 - MG. |
Uso | Proveniência | Recurso |
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2. Food - animal | natural | fruit |
Consumida por herbívoros, dentre eles a anta. As vagens maduras são avidamente consumidas pelo gado bovino, pois são palatáveis e nutritivas e caem no período de estiagem, quando os pastos estão secos (Fernandes & Rego 2014). | ||
Referências:
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