ARECACEAE

Butia capitata (Mart.) Becc.

Como citar:

Pablo Viany Prieto; Tainan Messina. 2012. Butia capitata (ARECACEAE). Lista Vermelha da Flora Brasileira: Centro Nacional de Conservação da Flora/ Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

VU

EOO:

246.532,858 Km2

AOO:

56,00 Km2

Endêmica do Brasil:

Sim

Detalhes:

A espécie é endêmica do Brasil, de ocorrência em Cerrado, nos Estados da Bahia, Goiás e Minas Gerais (Leitman et al., 2012).

Avaliação de risco:

Ano de avaliação: 2012
Avaliador: Pablo Viany Prieto
Revisor: Tainan Messina
Critério: A4cd
Categoria: VU
Justificativa:

<i>Butia capitata</i> é uma palmeira endêmica do Cerrado, cuja distribuição geográfica em grande parte coincide com algumas das regiões que mais rapidamente vêm sendo desmatadas dentro do Bioma, como o oeste baiano. A espécie também sofre com uma elevada pressão de atividades extrativistas, as quais restringem ou mesmo impossibilitam o recrutamento de novos indivíduos em algumas subpopulações. Estima-se que o tempo de geração da espécie seja de pelo menos 15 anos. Assim, considerando ointenso desmatamento dos seus habitats e a exploração sistemática a que vem sendo submetida, é possível suspeitar que um período de 45 anos, incluindo tanto o passado quanto o futuro imediatos, seja suficiente para que <i>B. capitata</i> sofra um declínio populacional de pelo menos 30%, caso nenhuma das ações necessárias à conservação da espécie seja efetuada.

Perfil da espécie:

Obra princeps:

Espécie descrita na obra Agris. Colon. 10: 504. 1916. Conhecida popularmente como "butiá-azedo", "butiá-vinagre", "butiá", "cabeçudo" e "guariroba-do-campo". B. capitata não deve ser confundida com B. odorata, característica de regiões de restinga do sul do Brasil. A espécie foi originalmente coletada em Minas Gerais e se caracteriza por seu endocarpo grande e fusiforme e, notavelmente, maior que o endocarpo globoso de B. odorata (Lorenzi et al., 2010).

Valor econômico:

Potencial valor econômico: Desconhecido
Detalhes: Lima (2011) afirma que a Cooperativa Grande Sertão, na região norte de Minas Gerias, comercializa a polpa do fruto da espécie, processada, sendo vendida a R$12,00/Kg.

População:

Flutuação extrema: Sim
Detalhes: Mercadante-Simões et al. (2006) afirma que no município de Montes Claros a concentração de indivíduos é alta. Os autores conduziram o trabalho com 52 indivíduos selecionados aleatoriamente. Lima (2011) realizou trabalho de dinâmica populacional com três subpopulações da espécie em áreas de extrativismo no norte de Minas Gerais, no municípios de Montes Claros, Mirabela e Serranópolis de Minas, contabilizando 658, 1216 e 3932 indivíduos respectivamente, sendo 274, 360 e 390 indivíduos reprodutivos em cada uma das subpopulações. O autor ainda afirma que nas duas subpopulações (Mirabela e Serranópolis) as quais o estudo de dinâmica populacional foi conduzido apresentaram uma taxa de 60% de sobrevivências de plântulas.

Ecologia:

Biomas: Cerrado
Fitofisionomia: Espécie de ocorrência em cerrados e cerradões, geralmente em terrenos arenosos (Lorenzi et al., 2010)
Habitats: 2.1 Dry Savanna, 2.2 Moist Savana
Detalhes: Palmeira de estipe simples, monóica com 3 a 5 m de altura (Mercadante-Simões et al., 2006), de comportamento heliófito (Lima, 2011). A difícil ocorrência de sincronia entre as fenofases masculinas e femininas, em uma mesma planta, contribuem para a xenogamia em B. capitata, o que torna necessário a manutenção de vários indivíduos para que ocorra a polinização, viabilizando a conservação da população (Mercadante-Simões et al., 2006). Segundo Lima (2011), a espécie floresce entre março e setembro e frutifica entre junho e janeiro, sendo que a semente pode demorar até dois anos para germinar.

Ameaças (8):

Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1 Habitat Loss/Degradation (human induced)
B. capitata está sujeita a sérios riscos quanto à manutenção das suas subpopulações no norte de Minas Gerais devido ao desmatamento (Mercadant-Simões et al., 2006).
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.3.4 Non-woody vegetation collection
B. capitata está sujeita a sérios riscos quanto à manutenção das suas subpopulações no norte de Minas Gerais devido ao extrativismo predatório (Mercadant-Simões et al., 2006)
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
8.3 Prey/food base
B. capitata está sujeita a sérios riscos quanto à manutenção das suas subpopulações no norte de Minas Gerais, devido ao consumo de suas flores e frutos por bovinos e eqüinos, uma vez que a planta apresenta floração em plena época seca e a inflorescência se torna alternativa alimentícia ao pasto seco (Mercadant-Simões et al., 2006). Os mesmos autores ainda afirmam que o consumo é facilitado devido ao fato da grande maioria das palmeiras ser de pequeno porte, e a coloração amarelada das flores se destacar entre o verde das folhas do Butia capitata. Em muitos casos, a intensidade de pastejo deste recurso é quase total, diminuindo ou até impossibilitando a produção de frutos por muitas plantas.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.3.4 Non-woody vegetation collection
Mercadante-Simões et al. (2006) afirmam que o extrativismo dos frutos realizado pelas populações tradicionais configura uma ameaça a propagação da espécie. Normalmente, todos os frutos são coletados, restringindo a disponibilidade de alimento para a fauna local e a formação de bancos de sementes, que poderiam contribuir na sucessão da população. Deste modo, existe o comprometimento da manutenção da espécie como um todo.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
3.1.1 Subsistence use/local trade
Segundo Lima (2011) a valorização de um produto junto ao mercado regional pode gerar uma sobre-exploração deste recurso, seja pelo aumento na intensidade de coleta ou pelas técnica de manejo empregadas.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.3 Extraction
Segundo Lima (2011), o uso da terra, assim como o histórico de extrativismo de frutos e a formação vegetacional de cada região estudada pelo autor podem ter influenciado na estrutura populacional da espécie. O autor afirma que este fato é corroborado pela variação na densidade de plântulas e na proporção de estádios entre as subpopulações.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.1.4.3 Agro-industry
Lima (2011) supõe que a menor densidade de plântulas em Mirabela pode estar relacionada ao recente histórico de intensa exposição a herbivoria e pisoteio pelo gado. O autor afirma que este fato pode prejudicar o recrutamento de plântulas, danificar estrutura vegetativas, acelerar a degradação física e química do solo, além de provocar lixiviação e escoamento superficial de nutrientes.
Estresse Ameaça Declínio Tempo Incidência Severidade
1.3.4 Non-woody vegetation collection
Em Montes Claros, a baixa densidade de plântulas pode estar relacionada a maior exposição da espécie a eventos de coleta. A exploração dos frutos vem acontecendo há mais de 30 anos, sendo o número de coletores maior do que nas outras duas localidades estudadas.

Ações de conservação (3):

Ação Situação
5.7 Ex situ conservation actions on going
Existem sete indivíduos da espécie cultivados no arboreto do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (Leitman, com. pess.). A espécie é cultivada no Jardim Botânico Plantarum (Instituto Plantaruym, 2011).
Ação Situação
1.2.1.3 Sub-national level on going
A espécie foi considerada "Em perigo" (EN) na Lista vermelha da flora do Rio Grande do Sul (CONSEMA-RS, 2002).
Ação Situação
3.8 Conservation measures needed
Os mesmos autores afirmam que a difícil ocorrência de sincronia entre as fenofases masculinas e femininas, em uma mesma planta, contribuem para a xenogamia em B. capitata, o que torna necessário a manutenção de vários indivíduos para que ocorra a polinização, viabilizando a conservação da população (Mercadante-Simões et al., 2006).

Ações de conservação (3):

Uso Proveniência Recurso
Ornamental
​Segundo Lorenzi et al. (2010) a espécie possui potencial para uso paisagístico em regiões tropicais e subtropicais.
Uso Proveniência Recurso
Confecção de ferramentas e utensílios
​As fibras das folhas são utilizadas na fabricação de vassouras, cestos, cordas e estofados (Lima, 2011).
Uso Proveniência Recurso
Alimentício
​O fruto é utilizado no preparo de refrescos (Lorenzi et al., 2010). A polpa dos frutos é bastante fibrosa, de sabor azedo a adocicado, rica em vitamina C, pró-vitamina A, potássio e lipídios (Faria et al., 2008).